4 F4L4CI4 D4S VERD4DES 4BSOLUT4S E 4 ILUS4O D4S CERTEZ4S

Este artigo possui 7.328 palavras.
Quem nunca teve certeza de alguma coisa, só para perceber depois o quão enganado estava, que atire a primeira pedra.
Vivemos em uma era em que a informação é abundante, mas a sabedoria nem tanto. Em meio a um verdadeiro mar de dados, muitos de nós se agarram às “verdades absolutas” feito náufragos em busca de uma tábua de salvação. Mas será que essas certezas são realmente sólidas ou apenas construções frágeis prontas a desmoronar diante de um questionamento mais profundo?
Neste artigo, nós nos atreveremos a explorar como a busca por verdades absolutas pode ser inútil. Vamos também dar uma olhada na face da necessidade que nós, humanos, possuímos por segurança, analisaremos - bem de leve - o papel da filosofia na construção do conhecimento e refletiremos sobre como as certezas inquestionáveis podem ser um tanto quanto perigosas em uma sociedade cada vez mais polarizada.
A Busca pela Verdade
Desde os primórdios da civilização, o ser humano busca respostas para as grandes questões da existência: “Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?”. Essas perguntas refletem a nossa busca por segurança e estabilidade. Com elas e a partir delas, passamos a criar narrativas, mitos e religiões que nos ofereçam certezas reconfortantes.
Essas certezas, por sua vez, ganham uma camuflagem de verdades absolutas, que são nada mais que informações vistas como universais, imutáveis e independentes de contexto. Exemplos simples disso seriam: “o Sol nasce no leste”, ou “dois mais dois é igual a quatro”.
Até aí, beleza, sem problemas. Mas a questão se aprofunda quando começamos a aplicar essa lógica matemática em questões morais, culturais ou subjetivas, como: “Existe apenas um Deus verdadeiro.” ou “determinado estilo de vida é o correto...”.
É nessas frases que nos damos conta de o quanto a necessidade de verdade tem raiz em nosso desejo de controle. A incerteza gera ansiedade, e a mente humana, em sua ânsia por previsibilidade, constrói sistemas de crenças que prometem ter uma explicação para tudo. Nesse momento, essas “verdades” tornam-se pilares sobre os quais erguemos nossas identidades e sociedades.
No entanto, essas construções, na maioria das vezes, ignoram a complexidade do mundo e dos indivíduos em si. Ao buscarmos respostas definitivas, corremos o risco de terceirizarmos demais nossa visão sobre a realidade, descartando assim as várias nuances e perspectivas presentes. A nossa história está repleta de exemplos de como certezas inquestionáveis levaram a dogmas, intolerâncias e até mesmo a atrocidades.
E se engana aquele que pensa que o dogmatismo é propriedade exclusiva das religiões. Em alguns casos, a ciência também escorrega na arrogância. Enquanto isso, a sociedade adora pregar o que é “normal”. Desde que o ser humano começou a organizar churrascos e erigir templos, ele tem tentado transformar suas certezas em verdades absolutas. Mas será que isso realmente faz sentido?
Origem Histórica
A filosofia tem se debruçado sobre essa questão desde seu início. Ao longo dos anos, a lista de pensadores e pensadoras que se debruçaram sobre o tema é longa, por isso abaixo você encontra uma miscelânea de informações que cita algumas destas figuras históricas. Diferente do ensaio sobre a Ilusão do Eu, aqui não teremos uma linha cronológica.
Antiguidade, Idade Média e a Fé Absolutista
Sócrates dizia “Só sei que nada sei.” enquanto utilizava sua maiêutica - técnica do parto das ideias - para fazer os outros parirem sua ignorância. Enquanto isso, Platão, seu discípulo, propunha a existência de um mundo das ideias, onde residiriam as verdades eternas e imutáveis. Para ele, o mundo em que vivemos era apenas uma sombra mal feita dessa realidade superior.
Aristóteles, um tanto quanto “mais mundano”, nos trouxe uma abordagem mais empírica, que buscava compreender a realidade através da observação e da lógica. Ele acreditava que a verdade poderia ser alcançada por meio da razão e da análise cuidadosa dos fenômenos.
Já na Idade Média, temos a absolutização da fé. Questionar era pecado e ponto final. A verdade vinha de cima - literalmente - Deus, a Igreja e os Reis. Nessa história, Agostinho de Hipona e Tomás de Aquino até tentaram racionalizar a fé, mas ainda assim, as coisas giravam em torno da obediência à certeza do além (algo que prevalece até os dias atuais).
Iluminismo e a Ascensão do Império da Razão
Alguns séculos depois, chega o Iluminismo e, com ele, Descartes, Newton e companhia. Digamos que, ao trocar a batina pelo jaleco, a razão virou o novo Deus e assumiu o império.
René Descartes, embora buscasse certezas, também reconheceu a importância da dúvida. Sua metodologia consistia em duvidar de tudo até encontrar uma base inquestionável para o conhecimento. O carinha do “Penso, logo existo.” tornou-se um marco na busca por um fundamentalismo sólido. No entanto, ele também veio a reconhecer os limites da racionalidade, admitindo a possibilidade de existir um “gênio maligno” que poderia enganar nossos sentidos e pensamentos. Sim, no final das contas, o cara meio que caracterizou o ego.
Filosofia Moderna, Ceticismo e a Morte da Verdade
Avançando para o século XVIII, mais precisamente entre os anos de 1739-1740, quando David Hume lançou sua obra mais importante, “Tratado da Natureza Humana”, nela ele aprofundou-se nas ideias do Ceticismo - uma corrente filosófica criada por Pirro Élis que argumentava que a suspensão do juízo era a única atitude racional diante da impossibilidade de se alcançar a verdade com certeza. Hume argumentou que nossas percepções são falíveis e que não podemos confiar plenamente nos sentidos para obter conhecimento seguro.
Essa abordagem cética permitiu avanços significativos na filosofia e na ciência, ao incentivar o questionamento constante e a revisão das crenças. O ceticismo, longe de ser uma postura niilista, é uma ferramenta que pode - e é usada por alguns - para evitar dogmatismo e promover uma atitude crítica e aberta ao aprendizado contínuo.
Estava tudo muito bem até a chegada do século XIX. Foi aí que o crítico mais contundente de verdades absolutas resolveu abrir a boca. Friedrich Nietzsche argumentava que a verdade não é algo objetivo e imutável, mas sim uma construção humana, moldada por interesses, perspectivas e contextos históricos. Digamos que ele deu um soco filosófico na cara da modernidade, dizendo que as chamadas “verdades” não passavam de ilusões que esquecemos que são ilusões.
Ele via a busca por certezas como uma forma de negação da vida em sua plenitude, independente de todas as contradições e ambiguidades que esta possui.
Seu conceito de “perspectivismo” propõe que não existe uma única verdade, o que existe são múltiplas interpretações da realidade, onde cada uma é válida dentro de seu contexto. Obviamente que esta visão desafia a ideia de uma verdade universal e convida à valorização da diversidade de perspectivas.
Além de tudo, este cidadão ainda chamou a moral tradicional de “moral de rebanho”, pois a via como uma imposição de valores absolutos que reprimiam a vontade de poder e a criatividade humana. Ele propôs também a transvaloração de todos os valores, incentivando a criação de novos significados e a afirmação da vida em sua totalidade. Toda essa crítica não era por ódio, era por perceber que a verdade era fabricada e usada como uma arma contra a população.
Vamos meter o louco e viajar até a França do ano 1926, momento da história em que nasceu Paul-Michel Foucault. O cara declarou que toda verdade é política. Quem controla o discurso e as narrativas, controla o que é considerado verdadeiro. Se você precisa de exemplos modernos disso, é só abrir as suas redes e observar o que o algoritmo decide que você deve e irá ver hoje, ou vá ao cinema ou assista TV.

A Sociedade Contemporânea e a Ilusão das Certezas
Estamos na era da informação, mas paradoxalmente, vivemos uma crise de confiança no conhecimento. As redes sociais e os algoritmos têm suas próprias bolhas de informação, onde as pessoas são expostas quase que apenas a conteúdos que reforçam suas crenças pré-existentes. Isso fortalece a ilusão das certezas inquestionáveis e dificulta o diálogo entre diferentes perspectivas.
No momento presente, a polarização política e ideológica já se tornou um sintoma dessa tendência. Grupos se fecham em suas convicções, rejeitando qualquer informação que contradiga suas narrativas. A complexidade das questões é algo completamente ignorado em favor de explicações simplistas e maniqueístas.
Além disso, a disseminação de fake news e teorias da conspiração alimenta a desconfiança. A busca por certezas absolutas leva muitos a abraçarem explicações emocionalmente reconfortantes. Essa dinâmica é ardilosa, pois mina a capacidade de lidarmos com a complexidade do mundo. Essa ilusão nos impede de questionar, de refletir de maneira crítica e de nos abrirmos ao aprendizado. Ao invés de promover o entendimento, fortalece-se o sectarismo e a intolerância.
Religiões: Fornecedoras de Verdades Inquestionáveis desde a.C.
Desde que o ser humano olhou para o céu e não entendeu o que era um trovão, até o cultuar gatos como deuses (ninguém pode culpá-los), a nossa espécie já vem buscando respostas no divino. E isso não seria nenhum problema se nós não confundíssemos religião com espiritualidade. Sim, são duas coisas diferentes, mas que podem se cruzar se assim o indivíduo o fizer.
A religião se trata basicamente de um sistema organizado de crenças, práticas e rituais que geralmente gira em torno de uma ou mais divindades. Ela tem ligação com instituições, textos sagrados, dogmas e uma comunidade de fiéis. Alguns exemplos seriam o Cristianismo, o Islamismo, O Judaísmo, O Hinduísmo e o Budismo, que possuem estruturas estabelecidas, líderes espirituais (como padres, pastores, imãs) e regras específicas de conduta a serem seguidas.
A espiritualidade por sua vez, se trata de uma experiência mais pessoal e individual de conexão com algo maior, seja isso um Deus, o universo, a natureza, o próprio eu interior, todos eles juntos ou até mesmo na massa (sim, isso existe, vide “Church of the Flying Spaghetti Monster”, Igreja do Monstro do Espaguete Voador em português literal, ou pastafarianismo). O exercício da espiritualidade não carece, necessariamente, de ligação com alguma religião ou instituição.
Qualquer pessoa pode ser espiritualizada sem seguir uma religião específica. A espiritualidade raiz tem como foco a busca pelo autoconhecimento, a evolução interior (o desenvolvimento pessoal como um todo) e a conexão com o(s) propósito(s) da vida - tudo isso, muitas vezes, longe de misticismos - algumas práticas comuns são a meditação, a contemplação, o silêncio e a introspecção.
As religiões surgiram afim de preencher o vácuo de compreensão humana. Oferecendo “explicações” para perguntas como: “De onde viemos?” e “O que acontece quando morremos?” elas criaram as bases de seus dogmas. Um sistema de regras criado e cuidadosamente embalado em papel celofane e etiquetado como “verdade eterna”, tudo isso para poder “esfregar na cara” de quem ousasse questionar. Afinal, quem precisa ter dúvidas quando se tem um livro sagrado que explica tudo, não é mesmo?
Não me interprete mal. Não se trata de desmerecer o papel histórico das religiões. Mas sim, de trazer à tona o fato de que muitas delas, ao longo da história, utilizaram do medo e das promessas de salvação para impor certezas absolutas. Alguns líderes religiosos e políticos usam a religião como ferramenta de poder e controle. Essa informação é um fato histórico. Impérios, reis e governantes utilizaram as doutrinas religiosas para legitimar guerras, submissão e escravidão de outros povos, repressão e obediência.
A questão aqui não está na fé. E sim, na obediência cega. O lance todo começa quando a religião se transforma em mecanismo de controle, quando ela reprime o pensamento crítico em nome de uma suposta verdade revelada. Figuras como Hipátia de Alexandria, Giordano Bruno, Joana D’arc, William Tyndale, Thomas Cranmer, Jan Hus, Anne Askew, Mahatma Gandhi, Óscar Romero, Hrant Dink, Shahbaz Bhatti, Farkhunda Malikzada… além de tantos outros, pagaram com a vida ao desafiarem dogmas.
Pois, me diga, o que as cruzadas, as jihad (guerra santa) e as ditaduras têm em comum? Nada mais, nada menos do que uma certeza absoluta que justifica atrocidades.
Mesmo hoje, em pleno século XXI, no ano de 2025, a perseguição religiosa, infelizmente, ainda é uma realidade. Isso sem citar os diversos ataques aos direitos de cada indivíduo, à liberdade, à saúde, à ciência e à própria vida… tudo fundamentado em textos milenares interpretados ao pé da letra.
É importante virarmos a chave e compreendermos que é possível uma vivência religiosa e espiritual que abrace a dúvida. Teólogos como Paul Tillich e filósofos como Kierkegaard reconhecem a fé como um salto ao desconhecido e não como uma certeza absoluta. Há uma profunda sabedoria na aceitação do mistério e do incognoscível - e em admitir que talvez, apenas talvez, nós não saibamos de tudo e nem iremos chegar a saber.

A Ciência e o Colapso do Paradigma Newtoniano-Cartesiano
Ao contrário do que a gente vê por aí, a ciência não deve ser seguida tal qual um livro sagrado. Ela não deveria estar interessada em verdades absolutas e deterministas, mas sim nas teorias refutáveis. O método científico parte da dúvida, não da certeza. Hipóteses são propostas, testadas, confirmadas ou descartadas. A cada descoberta, novas perguntas surgem - e é assim que ela avança.
Nós vivemos em uma era em que a ciência é simultaneamente endeusada e demonizada. Uns a tratam como a grande nova religião, esperando dela respostas definitivas para tudo. Outros a rejeitam, acusando-a de ser manipulada e corrupta. Mas e se ela for ambos? Deus, Demônio e uma construção humana, falível e que precisa ser constantemente revisada e aprimorada… Isso lhe soa familiar?
Grandes cientistas como Karl Popper, Thomas Kuhn, Imre Lakatos e Amit Goswami por exemplo, nos mostraram que o progresso científico não corre de forma linear. Paradigmas são rompidos, teorias caem, outras surgem. O que hoje é consenso, amanhã pode ser descartado - e isso é o máximo. É um sinal de que a ciência está viva, inquieta e talvez humilde o suficiente para admitir seus erros.
O X da questão aqui está em quando exige-se da ciência a segurança que as religiões prometem. Quando confundimos “provisoriamente confirmado” com “eternamente verdadeiro”. Essa exigência é infantil, uma recusa em lidar com a complexidade e a incerteza do mundo.
A intolerância, o julgamento e a “caça às bruxas” também fizeram parte do meio científico.
Um bom exemplo disso é a Física Quântica, que desde suas origens no início do século XX, enfrentou uma resistência absurda dentro da própria comunidade científica. Suas ideias eram um tiro na cara do paradigma clássico estabelecido pela física newtoniana.
O caso emblemático do famoso experimento da Dupla Fenda foi uma dessas ideias, que demonstrava como o comportamento das partículas subatômicas se altera para onda, dependendo simplesmente de estarem sendo ou não observadas. Mesmo diante de resultados experimentais consistentes, muitos cientistas que abraçaram esses conceitos foram ridicularizados e marginalizados, tudo isso apenas por sugerirem que a consciência (o observador) pode influenciar a realidade - sugestão essa considerada “herética” na época. Alguns destes cientistas chegaram a perder suas posições acadêmicas ou financiamentos por defenderem ideias vistas e interpretadas como místicas ou absurdas para os padrões do pensamento científico tradicional.
O documentário “Quem Somos Nós?” (What the Bleep Do We Know!?), lançado em 2004, trouxe à tona essa discussão entre as novas descobertas da física quântica e o conservadorismo do meio científico. A obra foi feita de maneira acessível ao público leigo, com uma mistura de entrevistas com físicos, médicos, filósofos e enredo ficcional, que explora como a realidade pode ser moldada pela consciência, baseando-se em fundamentos da mecânica quântica.
Além do documentário ter sido duramente criticado pela comunidade acadêmica, vários dos especialistas envolvidos sofreram críticas severas e boicotes. Alguns inclusive, relataram ter sido isolados, desacreditados e até perseguidos por suas crenças baseadas nos fenômenos quânticos observáveis.
Ainda assim, a persistência dessas ideias - agora corroboradas por diversos outros experimentos, além de ter ganhado um prêmio Nobel - demonstrou que a ciência, embora precise de ceticismo, não pode ignorar evidências empíricas apenas por elas parecerem estranhas ou desconfortáveis à lógica vigente.
O Cultivo da Dúvida de Forma Saudável e a Educação
Eu não sei o que você acha, mas eu tenho a impressão de que o nosso sistema de educação tradicional possui uma estrutura rígida, padronizada e que prioriza a memorização mecânica e a repetição de conteúdos. O ensino sobre o cultivo da dúvida e o pensamento crítico é inexistente dentro das instituições, mesmo aquelas que são pagas para ensinar os alunos a serem bons profissionais em suas áreas.
Além de ter completado o ensino médio tradicional, eu cursei História em uma universidade particular. Verdade seja dita, eu não cheguei a me formar, tranquei a faculdade pois não tive como continuar a bancá-la e, além disso, me dei conta de que o estudar em uma universidade era somente uma tentativa inconsciente de deixar meus pais orgulhosos e não o que eu queria.
Mas, pelo período em que lá estive e nas matérias em que cursei, em nenhum momento escutei falar sobre a incerteza e/ou imprecisão que a história possui. Tudo ali é tratado como fato, apenas por estar escrito em um livro.
A história que todos nós aprendemos, tanto na universidade como fora dela, é, em grande parte, a história contada pelo lado vencedor - e apenas essa simples informação já a torna profundamente parcial e imprecisa. Muitas vezes, os ditos fatos históricos não passam de registros manipulados, que passam pelo filtro dos interesses políticos, culturais e religiosos. São esses filtros que escolhem o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido.
Dentro deste ensejo, é claro, que as vozes das minorias - que, de forma paradoxal, seriam as verdadeiras maiorias silenciadas - raramente possuem espaço nos livros. Povos inteiros, com suas lutas, culturas e perspectivas, foram - e são - apagados e/ou retratados de forma completamente distorcida.
O mais alarmante, na minha opinião não solicitada, é: só porque algo está escrito em um livro, mesmo que didático, não é - e nem nunca foi - garantia de que aquilo aconteceu exatamente daquela forma. Isso deveria ser anunciado aos alunos no primeiro dia de aula. Informar que as traduções errôneas, as interpretações enviesadas e até falsificações documentais são parte da história da História. Pois sim, existem inúmeros casos em que dados foram forjados de forma deliberada a fim de sustentar as narrativas de dominação, regimes autoritários, justificar guerras e perpetuar dogmas religiosos.
Filósofos como bell hooks, Paulo Freire e Edgar Morin nos lembram que o processo educativo deve ser questionador, dialógico e, sobretudo, libertador. Um sistema de educação que não estimula o questionamento é só uma fábrica de autômatos obedientes e não de seres pensantes.
É preciso ensinar desde cedo que não há problema algum em não saber de algo. Que mudar de opinião, mesmo que centenas de vezes, não é sinal de fraqueza, mas sim de maturidade intelectual. Que as dúvidas não são buracos negros e nem monstros de sete cabeças, mas portas para novas descobertas de novos conhecimentos.
Óbvio que isso exigiria uma mudança a nível profundo, se não abissal, na forma como concebemos o conhecimento. Precisaríamos deixar para trás o paradigma das respostas certas e dar boas-vindas ao produtivismo que a dúvida traz. E antes que você pense que isso tudo se trata de relativismo barato, é melhor parar por aí, pois isso é apenas honestidade intelectual.
Toda essa ausência de dúvidas torna os indivíduos mais vulneráveis a aceitar informações de cunho absolutista sem análise prévia, o que os torna presas fáceis para os dogmas religiosos, políticos e sociais. Uma mente que não aprendeu a questionar torna-se refém de ideologias manipuladoras e de sistemas corruptos. É desta forma que regimes autoritários e desigualdades se perpetuam, com pessoas que não aprenderam a pensar por si mesmas e que não foram estimuladas a desconfiar do que aparenta ser o óbvio.
Sendo assim, todo e qualquer sistema educacional que não ensina a questionar, acaba por ensinar - ainda que de forma indireta - a obediência cega. Não precisa ser gênio para saber que isso tem um preço alto: a liberdade de pensamento, a autonomia intelectual e, por consequência, a verdadeira democracia. Aceitar o que a “história oficial” diz sem questionamentos é a mesma coisa que abrir mão da verdade, tudo em nome da conveniência. É deixar que o nosso passado seja usado como ferramenta de controle em nosso presente.
E o papel da Família? Onde fica?
Em assuntos como este, sabemos que “o buraco sempre é, muito mais embaixo”. Os seres humanos aprendem na repetição, independente de esta repetição envolver algo bom ou ruim, amor ou dor… Pensando nisso, não é de se admirar que exista uma desconexão entre as escolas e o ambiente familiar. Esse é, muitas vezes, um dos pontos mais críticos e negligenciados ao tratar-se da formação do pensamento crítico.
Escola e família são dois sistemas que deveriam estar em sintonia. Pois juntos, seriam pilares que se complementam na construção de cada indivíduo. Porém, o que se vê na prática, é um abismo cada vez maior entre esses dois mundos.
É importante levar em conta que o cultivo e o ensino do pensamento crítico em salas de aula, muitas vezes, superlotadas, com mais de vinte alunos, se trata de fato de um desafio hercúleo. Em um cenário destes, o professor, já sobrecarregado e mal remunerado, se vê diante de uma turma onde boa parte chega emocionalmente desregulada, sem nenhuma noção clara de limites, respeito mútuo e escuta ativa - coisas que são os fundamentos para qualquer troca, mesmo a mais básica.
Assim, o ambiente escolar, lugar que deveria ser um campo fértil para o florescimento de ideias, acaba por se tornar um verdadeiro campo de batalha emocional. Torna-se uma missão quase impossível estimular o questionamento e a reflexão quando se gasta a maior parte do tempo apenas procurando manter a ordem. O desenvolvimento do pensamento analítico carece de atenção e diálogo, mas nestas condições, isso acaba sendo suprimido por uma realidade caótica, onde a prioridade passa a ser o controle e não o crescimento dos indivíduos que ali se encontram.
Com isso, temos a questão de que as escolas podem até tentar, mesmo com recursos limitados, cumprir um papel que não é só seu, o de formar cidadãos conscientes, emocionalmente saudáveis e críticos. Mas, sem o apoio familiar, que forneça a base, reforce valores, incentive a escuta e estimule a curiosidade? Ah, isso se torna uma tarefa digna de Hércules.
O que dizer das crianças que chegam às escolas sem qualquer referência de respeito, empatia ou reflexão? É óbvio que o professor não ensinará, mas passará apenas a apagar incêndios. A crise não se mantém apenas dentro das escolas, ela está dentro das casas. O ambiente familiar deveria ser o primeiro espaço onde a criança aprende a educação emocional e a formação de valores, mas, frequentemente, esse ambiente é o que está completamente desestruturado.
Famílias marcadas pela negligência, ausência de diálogo, violência e completa instabilidade, não é surpresa que os filhos cresçam sem referência de limites, respeito, escuta e afeto. Isso irá refletir diretamente no comportamento escolar. Crianças e adolescentes instáveis não conseguem se concentrar e muito menos desenvolver um pensamento crítico. Portanto, como esperar que estes indivíduos em potencial questionem o mundo se não possuem clareza sobre si mesmos? - coisa que muitos adultos ainda não possuem até hoje, por que será?
Sem essa aliança entre lar e escola, constroem-se gerações inteiras fragilizadas, emocionalmente carentes e intelectualmente vulneráveis. Coincidentemente, são essas as presas perfeitas para narrativas prontas que os sistemas de controle utilizam. O que nós vemos nas famílias e nas escolas é apenas o reflexo da hierarquia de problemas, que, sem intervenção e questionamento, segue se perpetuando em uma população domesticada, reativa e facilmente manipulável.

O Perigo das Certezas Ideológicas e a Política
Agora, vamos falar de um dos berços mais esplêndidos para as certezas absolutas, a política. É um tal de esquerda vs direita, progressistas vs conservadores, onde tudo mais parece um ringue de WWE do que democracia.
Falando da política, numa essência mais profunda e pura, ela teria o intuito de ser o instrumento de organização da sociedade para o bem coletivo. Porém, o que se tem é o uso deste poder, que foi transformado em meio de autopreservação de elites, manipulação e disseminação de certezas ideológicas que passam a ser defendidas e repetidas com fervor religioso.
Um jogo perigoso que se torna armadilha quando passamos a transformar e simplificar a complexidade do mundo em narrativas maniqueístas, que alimentam o ódio e a segregação entre grupos e que cegam os cidadãos comuns para as verdadeiras questões estruturais. Estamos tão imersos na ilusão da escolha entre “lados opostos” que acabamos por dar apoio à perpetuação da hierarquia de problemas que nasce das decisões políticas mal planejadas, intencionalmente omissas e/ou abertamente corruptas.
Enquanto o povo - que deveria ser o centro do sistema - digladia nas ruas, contentando-se em ser a peça sacrificável das jogadas de poder, os governantes legislam suas próprias causas, disfarçadas de soluções pró-povo.
E por mais que as ideologias sejam nobres, elas tornam-se armas quando se transformam em religião. Quando um partido político vira seita, qualquer divergência se torna traição. E é aí que o pensamento lógico-crítico dá espaço ao fanatismo - e nós sabemos muito bem onde isso pode findar.
Nietzsche nos alertou inúmeras vezes sobre os perigos da moralidade imposta, e Hannah Arendt nos mostrou como o totalitarismo se alimenta da incapacidade de um povo em pensar. Política real exige diálogo, confronto saudável de ideias e pluralidade, um espaço aberto onde diferentes visões podem e devem ser debatidas. Onde o vencedor deveria ser, exclusivamente, os ideais voltados à população - independente de maioria ou minoria. Mas isso só é possível quando reconhecemos que nossas certezas podem e devem ser questionadas.
Luta entre nações, conflitos internos e guerras disfarçadas de diplomacia são apenas extensões do teatro político, onde sempre os inocentes pagam com sangue, fome e miséria pelas decisões que, com certeza, não escolheram. E, como se não bastasse, é nesse cenário de disputas e caos que a religião, muitas vezes, entra como uma aliada estratégica destes sistemas. No lugar de agir como uma força de emancipação e consolo espirituais, ela se torna um braço ideológico que só reforça o status quo. Seus dogmas são usados como correntes mentais, anestesiando a consciência crítica ao promover obediência cega, e consequentemente, essa obediência favorece exatamente aqueles que deveriam estar sendo questionados.
O casamento entre a política e a religião é tão antigo quanto a civilização humana e essa união continua sendo uma das formas mais eficazes de controle das massas. Enquanto o povo passa fome e reza por milagres, os governantes seguem tomando decisões que aprofundam ainda mais a desigualdade, sabotando qualquer possibilidade de uma verdadeira democracia, aquela em que o sistema serve o povo e não ao contrário.
A Programação das Convicções na Era da Tecnologia e dos Algoritmos
Nosso mundo está cada vez mais digital. Passamos mais tempo interagindo com as telas do que com pessoas - eu que o diga -, nossas certezas estão sendo silenciosamente moldadas e satisfeitas por algoritmos. “Experiência personalizada”, o que, traduzindo para o português, significa: o algoritmo decide e te entrega o que ver, o que ler, com quem interagir e, em alguns casos, o que pensar.
O problema não é a utilização de algoritmos, mas sim o uso inadequado pelas redes sociais e outras plataformas digitais. Isso tem moldado o comportamento das pessoas de maneira preocupante. Esses sistemas, em sua maioria, são projetados com fins de maximizar o tempo de permanência dos usuários nas plataformas, promovendo um engajamento cada vez maior de certos conteúdos, independente de qualidade e/ou veracidade.
Não precisa dizer que essa dinâmica cria um looping de consumo viciado e repetitivo. Os usuários, sem nem ao menos perceber, são constantemente expostos a informações semelhantes, o que reforça as crenças já existentes, limitando a gama de perspectivas. Por consequência, desenvolve-se a “preguiça cognitiva”, na qual o usuário se torna menos propenso a buscar por novas informações ou questionar o que lhe é apresentado. É preciso dizer que essa exposição contínua a conteúdos algoritmicamente selecionados pode afetar a saúde mental, contribuindo com a ansiedade, depressão e o isolamento social.
Em sua obra “A Era do Capitalismo de Vigilância”, Shoshana Zuboff nos mostra que as big techs não só monitoram os nossos comportamentos, mas também os moldam, criando assim ambientes que aumentam até não poder mais o tempo de uso, o consumo e, é claro, o lucro. E para quem acha que não existem consequências, saiba que nós já trocamos o nosso livre-arbítrio pelas recomendações personalizadas. A nossa subjetividade está sendo cooptada por máquinas que não possuem ética, apenas métricas.
Paralelamente a tudo isso, nós assistimos à ascensão dos influenciadores digitais. O que traz à tona algumas questões espinhosas, éticas e legais bem significativas. Muitos destes influenciadores utilizam sua audiência para promover produtos e serviços, seus e de outros, o que não é nem de longe um problema. Mas, muito poucos consideram as implicações que estes produtos/serviços podem ter em seus seguidores. Pode ser até exagero de minha parte, mas isso traz à baila o quanto o lucro é mais importante do que a vida das pessoas, até para aqueles que dizem que amam seus seguidores.
Um caso bem interessante, que serve como exemplo, é o de uma certa influenciadora brasileira, envolvida até o pescoço em controvérsias relacionadas à promoção de jogos de azar online. É digno de nota a caracterização e postura utilizadas por ela durante seu depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas.
Qualquer pessoa que entenda um mínimo de produção de imagem e análise de perfil comportamental percebe o que realmente estava em jogo ali. Cabelos soltos, pouca maquiagem, óculos de grau, garrafinha cor-de-rosa cheia de adesivos, moletom estampado com o rosto da filha, tirando fotos, relaxada e descontraída… uma pose e imagem construídas da “menina simpática e inocente” - e do marketing, ela com certeza vai vender muitas garrafinhas e moletons.
A senhora em questão, afirmou que não tinha conhecimento nenhum de que as pessoas estavam perdendo dinheiro com o jogo de azar que ela promovia. Cara, desculpa aí, mas dizer uma coisa dessas é a mesma coisa que um médico fazer uma operação sem anestesia e dizer que não sabia que o paciente podia sentir dor. Eu sinceramente não acredito que essa senhora seja alguém de tão pouca inteligência, mas nós também sabemos que a cultura do “Eu não sabia…” já inocentou muitos - inclusive aqueles que não deveriam ter sido.
O exemplo citado acima destaca a falta de responsabilidade e empatia de alguns influenciadores ao endossar produtos potencialmente prejudiciais, explorando a confiança de seus seguidores e contribuindo para a disseminação de práticas questionáveis. É essencial que haja uma maior conscientização e regulamentação sobre a atuação desses profissionais, garantindo que a influência exercida seja pautada em ética e responsabilidade, como qualquer outra profissão o é.
É importante ressaltar que a responsabilidade por todo este cenário atual de manipulação digital e influência enganosa não recai apenas sobre os produtores de conteúdo, mas também sobre o público que consome este tipo de material. Culpar exclusivamente o indivíduo por sua ignorância e vulnerabilidade seria injusto, sobretudo quando falamos de um país onde milhões ainda vivem à margem da dignidade, privados de educação de qualidade e muitas vezes com estômagos vazios.
Uma população com fome, exausta por jornadas de trabalho desumanas e sem acesso - e tempo - ao pensamento crítico, se torna presa fácil das promessas de dinheiro fácil - como as feitas por esses jogos de azar promovidos nas redes sociais. Para esses indivíduos, que lutam diariamente por migalhas, qualquer atalho financeiro, mesmo que duvidoso e não confiável, se torna uma esperança legítima.
Esperança essa que, na maioria dos casos, se trata de uma armadilha, cuidadosamente nutrida por um sistema que lucra com a ignorância e o desespero. Sem políticas públicas reais que garantam de fato nem que seja o básico - alimentação e educação de qualidade, tempo livre para o lazer… - a população seguirá sendo manipulada e usada pelas telas que vendem ilusões e esvaziam a consciência.
O Supremo Tribunal da Cultura do Cancelamento
Se antes a religião e o Estado impunham seus dogmas, agora, além deles, temos a cultura do cancelamento. Os cidadãos, usuários das redes, em seu desejo por justiça, embora muitas vezes legítimo, passam a ser movidos por impulsos emocionais e não por análise dos fatos - que na maioria dos casos, nem é de total conhecimento do público. Assim, o cancelamento se tornou o novo queimar em praça pública.
Essa cultura, em sua versão mais tóxica, parte do princípio de que certos discursos, comportamentos e ideias não merecem sequer ser ouvidos. Basta um erro - ou até mesmo uma interpretação duvidosa - para o veredicto ser dado: culpado, excluído e aniquilado socialmente.
Embora isso tenha surgido como uma tentativa de responsabilizar figuras públicas por atitudes nocivas, frequentemente ela acaba por se transformar em uma prática distorcida. Ela já não promove justiça e conscientização, mas fomenta o ódio, a intolerância e até ameaça de morte, tudo baseado em julgamentos precipitados e interpretações tendenciosas.
Judith Butler já havia destacado que os discursos são performativos, mas também relacionais. O que quer dizer que esses discursos não podem ser dissociados do que dizem, do momento em que foram ditos e do como foram recebidos. Ignorar isso é praticar um rigorismo autoritário que permeia o fundamentalismo.
Além disso, todos os dias acontecem os julgamentos baseados em boatos, amplificados por canais de fofoca, representados por pessoas que se julgam jornalistas, mas cujo único propósito é vasculhar e expor aspectos íntimos da vida alheia. Alimentando assim um público que, frequentemente, prefere a ilusão dos escândalos dos outros a encarar os próprios vazios existenciais.
E qual é o resultado disso tudo? Uma sociedade que confunde responsabilização com vingança e justiça com espetáculo.

Os Vieses Cognitivos e o Conforto Mental como Mecanismos de Defesa
Já que estamos falando de diferentes áreas, é óbvio que a psicologia não poderia ficar de fora.
Quando olhamos do ponto de vista psicológico, a nossa crença em verdades absolutas se mostra como somente mais uma cela, confortável, sem dúvida, mas que bloqueia o nosso crescimento. A nossa massa encefálica é biologicamente programada para buscar padrões e certezas, uma característica adaptativa que, embora seja útil na sobrevivência em ambientes perigosos, também acaba por se tornar um obstáculo no mundo moderno.
Ao nos depararmos com novos conhecimentos e informações, especialmente aquelas que desafiam as nossas crenças, o nosso cérebro levanta os escudos e entra em modo de resistência. Isso acontece, em parte, em função do viés de confirmação - tendência inconsciente de busca, interpretação e lembrança de informações que validem aquilo que já cremos.
E, além disso, o nosso sistema de ativação reticular (SAR) funciona como uma espécie de porteiro perceptivo, ele prioriza a entrada de estímulos alinhados com nossos interesses e crenças existentes, desta forma reforçam-se os mesmos caminhos neurais e fortalecem-se as convicções, mesmo que estas sejam baseadas em premissas falsas e/ou desatualizadas.
As “nossas verdades” se formam de um jeito bem interessante, profundamente emocional e instintivo. O nosso cérebro é composto por três sistemas principais: o complexo-R (ou cérebro reptiliano), que trabalha com tudo o que é resposta automática de sobrevivência (medo, luta, fuga), aqui é reação pura e economia de energia; o sistema límbico, que rege os relacionamentos afetivos e as emoções; e, por último, temos o neocórtex, que é o responsável pelo raciocínio lógico e o pensamento crítico.
Eu acredito que você já deve ter entendido com quais sistemas nós normalmente mais agimos (reagimos no caso). Pois é, na prática, as nossas decisões são tomadas em grande parte pelos dois primeiros sistemas, enquanto o neocórtex atua, na maioria das vezes, apenas como uma justificativa racional posterior. Tudo isso significa que boa parte daquilo que chamamos “verdade” é somente emoção fantasiada de lógica.
Aí, nós chegamos a mais um fato desagradável. Sim, mais um dentro da nossa hierarquia. Toda essa estrutura cerebral é muito bem explorada e usada por sistemas que possuem um entendimento profundo de como manipular o comportamento humano.
Isso porque um energúmeno de fachada deselegante chamado Edward Bernays (pai da propaganda) foi um dos primeiros a aplicar os princípios de seu tio Freud, a psicanálise e o inconsciente emocional, para induzir comportamentos nas massas através dos sentimentos, não da razão. O modelo de propaganda que ele ajudou a criar ainda é usado amplamente, não só no consumo de produtos, mas também na compra de ideologias, crenças e narrativas políticas.
Nossos sentimentos passaram a ser transformados em oportunidades lucrativas, principalmente o medo, a escassez e a insegurança. A indústria da dor é algo real, nós a vemos nas mídias sensacionalistas, nos coaches que prometem soluções milagrosas, nas religiões que vendem a salvação e até mesmo na indústria farmacêutica que vem transformando o sofrimento em produto. Os governos não estão isentos disso, eles também se aproveitam desse modelo quando usam crises emocionais coletivas para justificar medidas autoritárias ou desviar falhas sistêmicas.
Em um sistema que não fomenta a saúde, a dor deixou de ser algo a ser compreendido e curado, para ser mercantilizada, gerando um ciclo onde o cidadão permanece vulnerável, dependente e emocionalmente fragmentado. Quando não abrimos espaços para a dúvida, quando o medo e a pressa impedem o pensamento analítico, nós, seres humanos, nos tornamos culturas para toda forma de manipulação.
Neste e em outros contextos, cultivar a consciência de si e do funcionamento da própria mente é muito mais do que um luxo intelectual - é um ato de resistência.
As Certezas são o Novo Ópio do Povo
Se Marx dizia que a religião era o ópio do povo, o que ele diria hoje? Que as nossas certezas viraram uma droga da qual todos nós somos usuários? Certezas políticas, certezas religiosas, certezas científicas, certezas digitais, certezas morais… Nunca tivemos tantas certezas, mas nunca estivemos tão desconectados de nós mesmos. Todos nós queremos ter razão, mas poucos querem pensar. Preferimos a zona de conforto ideológica a encarar o abismo e admitir “Eu não sei”.
E diante de tudo o que foi exposto aqui, fica evidente que o desenvolvimento de um pensamento mais crítico e mais analítico não se trata apenas de algo desejável, mas sim urgente. Nós somos constantemente bombardeados por informações moldadas para gerar reações rápidas, adesão cega e consumo irracional. E, enquanto isso, o buscar por si próprio, a dúvida, o questionamento e a reflexão são vistos como obstáculos.
Definitivamente, só um pensamento verdadeiramente crítico pode nos livrar do controle sutil que atravessa as esferas acima citadas. Pensar nunca foi tão necessário, tanto que hoje é um ato revolucionário. Cada vez que escolhemos refletir ao invés de reagir, estamos não só nos libertando, mas ajudando a reescrever a história com mais verdade, mais consciência e mais humanidade.
Portanto, chega de adular a ignorância que se disfarça de convicção. Por muitos anos escutei que a ignorância é uma bênção, sim, pode até ser, mas ela também é uma prisão que não nos isenta de nossa responsabilidade e nem nos protege. A vida sim é incerta, complexa e, muitas vezes, contraditória. O problema não está em errar, mas em insistir no erro para não parecer fraco. A única certeza que deveríamos carregar conosco é a de que todas as outras precisam ser, no mínimo, questionadas.
Reivindique sua autonomia intelectual. Não aceite o pacote fechado das certezas prontas. Questione tudo - inclusive este texto.
Se você curtiu essa provocação, te convido a continuar explorando os outros temas aqui no nosso espaço de ideias. Dê uma espiada no UN4RTificial o Blog, lá você encontra um oásis para as mentes inquietas. E sinta-se a vontade para comentar, questionar, sugerir temas, reclamar ou compartilhar o link do nosso site com quem precisa urgente rever suas certezas. Bora fazer parte da comunidade que pensa, provoca e transforma.
“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT
Pega aí as fontes, referências e inspirações. Os links direcionam para UN4RTificial o Blog, lá você encontra uma mini-biografia do autor e algumas de suas obras.
- Sócrates, Apologia a Sócrates (escrito por Platão).
- Platão, A República.
- Aristóteles, Metafísica.
- Agostinho de Hipona, Confissões.
- Tomás de Aquino, Suma Teológica.
- René Descartes, Meditações Metafísicas.
- David Hume, Tratado da Natureza Humana e Investigação sobre o Entendimento Humano.
- Pirro Élis, Fragmentos sobre o ceticismo antigo.
- Friedrich Nietzsche, Além do Bem e do Mal, A Gaia Ciência.
- Hannah Arendt, Origens do Totalitarismo.
- Paul-Michel Foucault, Vigiar e Punir.
- Church of the Flying Spaghetti Monster, também conhecido como pastafarianismo, foi fundado por Bobby Henderson e conta com seu próprio evangelho “Evangelho do Monstro do Espaghete Voador” lançado em 2006.
- Hipátia de Alexandria, filósofa, matemática e astrônoma neoplatônica do século IV, que foi assassinada brutalmente por uma multidão cristã por ser um símbolo do pensamto e da liberdade intelectual em meio a conflitos religiosos e políticos.
- Giordano Bruno, filósofo, astrônomo e teólogo italiano do século XVI, que foi executado pela Inquisição por defender ideias consideradas heréticas, como a infinitude do universo e a multiplicidaqde de mundos habitados.
- Joana D’arc, foi uma camponesa e guerreira francesa do século XV que liderou tropas na Guerra dos Cem Anos, ela veio a ser queimada viva pela Inquisição, acusada injustamente de heresia e bruxaria, sua execução se deu por motivos políticos.
- William Tyndale, foi um estudioso e teólogo inglês do século XVI, executado por estrangulamento e depois queimado por ter uzido a Bíblia para o inglês sem a autorização da Igreja.
- Thomas Cranmer, foi um arcebisto de Canterbury e líder da Reforma Aglicana no século XVI, ele foi queimado vivo por ordem da Rainha Maria I por ter se recusado a renunciar às suas convicções protestantes.
- Jan Hus, teólogo e reformador tcheco do século XV, queimado vivo por heresia após criticar os abusos da Igreja Católica e defender as reformas religiosas.
- Anne Askew, poetisa e reformadora protestante inglesa do século XVI, torturada e queimada viva por se recusar a renegar suas crenças religiosas e também por negar a transubstanciação (transformação da água em vinho por Jesus de Nazaré), desafiando assim a doutrina católica da época.
- Mahatma Gandhi, líder e pacifista indiano, defensor da independência da Índia, foi assassinado por um extremista hindu que o acusava de ser demasiado conciliador com os muçulmanos.
- Óscar Romero, arcebispo salvadorenho, defensor dos direitos humanos que foi assassinado por um atirador ligado ao regime militar enquanto celebrava uma missa, ele havia denunciado a violência e a injustiça durante a guerra civil em El Salvador.
- Hrant Dink, jornalista e ativista turco-armênio que defendia a reconciliação entre turcos e armênios, foi assassinado por um nacionalista em 2007 por ter feito declarações sobre o genocídio armênio e sua luta pela liberdade de expressão.
- Shahbaz Bhatti, político paquistanês e ministro das Minorias, foi assassinado por extremistas islâmicos em 2011 ao defender a reforma das leis de blasfêmia do Paquistão e proteger os direitos das minorias religios, especialmente cristãos.
- Farkhunda Malikzada, estudante afegã de 27 anos que foi brutalmente linchada por uma multidão em 2015 após ser falsamente acusada de queimar o Alcorão. Ela tornou-se um símbolo de luta contra a violência de gênero e a injustiça no Afeganistão.
- Paul Tillich, teólogo e filósofo protestante alemão do século XX, ficou conhecido por integrar a teologia com a filosofia existencialista.
- Søren Kierkegaard, filósofo, teólogo e escritor dinamarquês do século XIX, considerado o pai do existencialismo.
- Karl Popper, A Lógica da Pesquisa Científica.
- Thomas Kuhn, A Estrutura das Revoluções Científicas.
- Imre Lakatos, A Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica.
- Amit Goswani, O Universo Autoconsciente.
- Quem Somos Nós?, filme de 2004, dirigido po William Arntz e Betsy Chasse.
- bell hooks, Ensinando a Transgredir.
- Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido.
- Edgar Morin, O Método.
- WWE, World Wrestling Entertainment, empresa de entretenimento norte-americana reconhecida pelos trabalhos com luta livre profissional.
- Shoshana Zuboff, A Era do Capitalismo de Vigilância.
- Judith Butler, Problemas de Gênero.
- Edward Bernays, publicitário e teórico da comunicação austro-americano do século XX.
- Karl Marx, filósofo, economista e revolucionário alemão do século XIX, conhecido por fundar o socialismo científico e o marxismo.