4 PL4STICID4DE E 4 ILUS4O DO EU

uma mulher careca, tatuada e vestido de negro olha-se em um grande espelho com moldura dourada e antiga em estilo barroco, a mulher e o espelho estão em uma floresta escura

Este artigo possui 9.132 palavras.

Todo mundo possui um “ritual matinal” que, talvez, seja mais ou menos assim - e não necessariamente nesta ordem:

Acordar, espreguiçar-se, olhar um pouco para o nada, levantar, peidar, vestir-se, abrir as janelas/arrumar a cama, ir ao banheiro enquanto a água para o café esquenta, mijar, lavar o rosto/escovar os dentes, olhar-se no espelho… nesta última parte, talvez, alguns de nós pensem algo como: “Bom dia eu!”. Como é linda a poesia matutina!

Seria uma pena se eu a estragasse dizendo que esse “eu” pode ser apenas uma mentira biológica que você se conta todas as manhãs… Sim queridos, bem-vindos ao mundo da plasticidade neural e da ilusão do “eu” - um conceito tão confortável quanto cobrir-se com um edredom molhado no inverno.

Neste ensaio - porque chamar isso aqui de “artigo” seria uma blasfêmia e uma ofensa aos tantos cafés, pesquisas e estudos envolvidos - vamos falar um pouco sobre a consciência existencial, a identidade e sobre a maleabilidade do que insistimos em chamar de “eu”.

Será esse “eu” uma entidade sólida ou apenas uma holograma emocional criado pelo nosso cérebro, para que não surtemos? Essa simples perguntinha, tão inocente e inofensiva, já fez muita gente perder o sono (inclusive eu), os cabelos e, em alguns casos, a vida.

Para fins de melhor entendimento, citarei as diferentes linhas de pensamento de algumas figuras históricas. Esta “lista” apresenta os nomes que a autora julgou mais relevantes, portanto conclui-se que alguns figurões ficaram de fora.

As informações estão organizadas em tópicos principais, isso significa que o que você lê é a versão “mastigada” do conteúdo. Mas, caso queira aprofundar-se, eu recomendo fortemente que você leia as obras relacionadas e tire suas próprias conclusões.

Além disso, a linha cronológica aproximada está de acordo com o calendário gregoriano - por mais que os fatos não tenham ocorrido em vigência do mesmo, que foi introduzido apenas no ano de 1582.

Infelizmente, a autora não obteve acesso a Biblioteca do Vaticano, por isso, teremos que nos contentar com os “dados oficiais disponíveis ao público comum”, mas que, mesmo assim não são 100% confiáveis.

AVISO: Se você é do tipo que não gosta de ler, pensar e questionar, sinto informar mas... você está no lugar certo. Se joga!

 

Linha Cronológica Unificada da Gênese do “Eu”

 

Oriente & Ocidente

 

 Antiguidade (1500 a.C. - 500 d.C)

 

Upanishads/Vedāntas (Índia, +ou- 800-300 a.C.) - Diversos autores, entre Rishis (sábios, videntes), mestres espirituais e escolas védicas. Obras relacionadas: “Brihadaranyaka”, “Chandogya” etc.

  • O “eu” verdadeiro, chamado Atman é unido com a realidade absoluta, chamada Brahman.
  • Autoconhecimento e ascese (práticas rigorosas de autodisciplina) são meios de o “eu” descobrir-se.
  • O véu da ilusão (Māyā) esconde a essência do eu real.

 

Lao-Tze (China, século VI a.C.) - Filósofo, Escritor e fundador do Taoismo. Obra relacionada: “Tao Te Ching”.

  • A identidade não é rígida, mas sim desapegada e flui em harmonia com o Tao (o princípio universal, o Todo).
  • O “eu” é algo a ser transcendido e não nutrido.
  • Propõe a desidentificação com o ego em favor de uma vida mais natural e menos sofrida.

 

Sócrates (Grécia, 469-399 a.C.) - Filósofo. Não deixou escritos, seus ensinamentos foram reproduzidos por seu discípulo Platão.

  • Nosce te ipsum/Conhece-te a ti mesmo” é o princípio ético e filosófico; Usava a maiêutica socrática (“parto das ideias”) ou método socrático.
  • O “eu” verdadeiro é a alma (psique) que reside na razão, na moral e no conhecimento, onde a missão seria a busca da verdade.
  • O autoconhecimento leva a virtude (areté), portanto, aqui virtude e conhecimento são sinônimos.

 

Diotima de Mantineia (Grécia, século V a.C.) - Filósofa e Sacerdotisa. Não deixou escritos, mas aparece em “O Banquete” de Platão.

  • O “eu” busca conhecimento e beleza através do amor.
  • A alma deseja a imortalidade, transcendendo o corpo por amor ao saber.
  • Dá ênfase a transformação interior como processo de ascensão espiritual. 

Confúcio (China, 551-479 a.C.) - Filósofo e Pensador. Obra relacionada: “Analectos”.

  • O “eu” não é isolado, mas formado e aperfeiçoado nas relações sociais e familiares.
  • O “eu” ético se constrói através do cultivo da virtude e do dever para com os outros.
  • Seus pilares são: Autoaperfeiçoamento constante, Ren (humanidade, essência moral…), Li (seguir rituais e costumes…) e a Relação com os outros.

 

Siddharta Gautama, o Bhudda (Nepal, +ou- 563-483 a.C.) - “Ex-Príncipe”, Mestre espiritual e fundador do Budismo. Obras relacionadas: “Dhammapada” e “Sutras”. 

  • Não existe um “eu” fixo ou essencial, o que chamamos de “eu” se trata apenas de um conjunto de processos físicos e mentais que mudam constantemente (Annatta).
  • Impermanência (Anicca), tudo está em movimento, apegar-se às ideias do ego é a causa do sofrimento (dukkha).
  • A libertação vem do desapego do “eu” e na superação da ilusão de separação, assim alcança-se o nirvana (estado de paz suprema e libertação do ciclo de renascimentos conhecido como Saṃsāra).

 

Platão (Grécia, 427-347 a.C.) - Filósofo e Matemático, discípulo de Sócrates. Obras relacionadas: “Fédon”, “A República” e “O Banquete”. 

  • A alma (psique) se divide em três partes: a Racional (razão), a Irascível (vontade) e a Concupiscente (desejo).
  • O “eu” verdadeiro é a alma racional que governa as demais partes e que busca o conhecimento sobre as formas/ideias eternas (a Justiça, a Beleza, o Bem...).
  • O corpo é apenas a prisão da alma.

 

Zhuangzi ou Mestre Zhuang (China, século IV a.C.) - Filósofo taoista. Obra relacionadas: “Zhuangzi”.

  • O “eu” é mutável e fluído, se transforma, não há separação entre o “eu” e o mundo.
  • A rigidez do ego é a fonte das ilusões e sofrimentos.
  • A sabedoria verdadeira só é alcançada a partir do desapego da ideia de “eu”. Ao soltar o ego o “eu” entra em sintonia com o universo.

 

Aristóteles (Grécia, 384-322 a.C.) - Filósofo e Polímata, discípulo de Platão e tutor de Alexandre, o Grande. Obras relacionadas: “Ética a Nicômaco” e “Metafísica”.

  • A alma (psique) é “materializada” no corpo, ou seja, a alma e o corpo são unos.
  • O “eu” é definido pela capacidade racional e pelo potencial em alcançar a eudaimonia (felicidade plena).
  • Autoconhecimento é importante, mas é a realização das virtudes práticas cotidianas que verdadeiramente constrói o “eu”.

 

Vyasa (Índia, +ou- século V-II a.C.) - Sábio mítico tradicionalmente responsabilizado por ser o compilador do épico “Mahabharata” do qual o Bhagavad Gita faz parte (Livro VI: Brishma Parva). - PS: se quiser ter uma ideia da obra Bhagavad Gita mas com uma versão “ocidentalizada” assista o filme “The Legend of Bagger Vance” (“Lendas da Vida” em português) escrito por Steven Pressfield.

  • O que achamos ser o “eu” (corpo, mente e ego) não passa de Māyā, uma ilusão temporária.
  • O “eu”verdadeiro é uno com o Brahman (o Todo absoluto).
  • Na Gita, Krishna (avatar divino) ensina Arjuna (príncipe guerreiro) que o caminho do “eu” liberto é agir no mundo, mas com desapego aos frutos da ação.

 

Agostinho de Hipona (Roma, 354-430 d.C.) - Filósofo e Teólogo. Obra relacionada: “Confissões”. 

  • O “eu” só encontra sua verdadeira natureza ao voltar-se para dentro, buscando Deus como centro da alma.
  • O ser humano é marcado pelo pecado original e inclinado ao erro e o orgulho. A graça divina redime o “eu-ego” e restaura a sua relação com Deus.
  • O autoconhecimento leva ao conhecimento de Deus.A jornada interior é também uma jornada espiritual.

 

Idade Média (500 d.C. - 1500 d.C)

 

Adi Shankara ou Vendanta (Índia, século VIII) - Metafísico, Teólogo, Monge errante e Mestre espiritual. Obra relacionada: “Brahma Sutra Bhashya”.

  • Tudo é Um só Ser, eterno, infinito. O ego (ahamkāra) é ilusão (Māyā) - o “eu” é pura consciência.
  • Através do autoconhecimento, da meditação e dos estudos das escrituras, o buscador percebe que: “Eu não sou o corpo, nem a mente. Eu sou o Brahman.” Isso é a libertação (moksha).
  • Acreditar que somos ego é ignorância (avidyā).

 

Padmasambhava ou Guru Rinpoche (Tibete, século VIII) - O Bhudda do Tibete e fundador da Escola Tibetana (ou tântrica) do Budismo. Obra relacionada: “Bardo Thödol”. 

  • Não existe um “eu” fixo a ser encontrado, apenas condicionamento mental, ou seja, o “eu” não passa de uma ilusão criada pela mente.
  • As experiências diretas que trazem a realização, não os pensamentos.
  • O “eu” verdadeiro não é algo físico ou qualquer tipo de identidade, mas é consciência pura que não possui conceitos. A mente “iluminada” é clara, desperta e está presente em todos, mas em “segundo plano”, obscurecida.

 

Hildegarda von Bingen ou Sibila do Reno (Alemanha, 1098-1179) - Polímata e Monja. Obra relacionada: “Scivias”.

  • A mulher como sujeito místico e criativo e o “eu” como morada da revelação divina.
  • O “eu” encontra o seu sentido quando em harmonia com o corpo, a alma e o cosmo.
  • O Autoconhecimento é o caminho para a cura interior e a união com o divino.

 

Tomás de Aquino (Itália, 1225-1274) - Frade. Obra relacionada: “Suma Teológica”. 

  • Seguiu a ideia de Aristóteles, via o ser humano como uma unidade entre corpo (matéria) e a alma (forma).
  • O “eu” tem valor absoluto, capacidade de conhecer a verdade e escolher o bem pois foi criado à imagem e semelhança de Deus (imago Dei).
  • O fim do ser humano é a visão beatífica, contemplar a face de Deus. O “eu” se realiza ao alcançar essa causa e fim, ou seja, alcançar e contemplar Deus por meio da graça, da razão e da virtude.

 

Dōgen Zenji ou Dogen (Japão, 1200-1253) - Mestre Zen-Budista, Filósofo e fundador da Escola de Soto (do zen). Obra relacionada: “Shōbōgenzō”.

  • “Estudar o Caminho é estudar o eu. Estudar o eu é esquecer o eu. Esquecer o eu é ser iluminado por todas as coisas.” Ou seja, quando mergulhamos na prática zazen (meditação sentada), de forma profunda, o que chamamos de “eu” desaparece e nos unimos com a realidade como ela realmente é.
  • O “eu” se manifesta no agora, ele surge em cada respiração, em cada gesto e em cada momento de zazen. Não é algo a ser encontrado, mas sim vivido.
  • Ecoa os ensinamentos budistas de não-eu.

 

Teresa d’Ávila (Espanha, 1515-1582) - Mística e Filosofa. Obra relevante: “Castelo Interior”.

  • A alma é como um castelo de vários cômodos.
  • O autoconhecimento é uma trilha espiritual onde a experiência é subjetiva e de profunda introspecção que leva a união com o divino.
  • O “eu” é a “morada interior” onde Deus se encontra.

 

Renascimento e Iluminismo (1500 d.C. - 1800 d.C)

 

Michel de Montaigne (França, 1533-1592) - Filósofo, Escritor erudito, Humanista e Cético considerado o precursor do estilo literário ensaístico. Obra relacionada: “Ensaios”.

  • “Que sei eu?” (Que sais-je?) - frase muito utilizada por ele, onde reconhecia a fluidez e a incerteza do “eu”. Mudar é natural e a contradição faz parte da natureza humana, pois o “eu” é instável e o ser humano é como uma colcha de retalhos de emoções, experiências e mudanças.
  • O “eu” busca a sabedoria através da dúvida e não através de certezas ignorantes. Equilíbrio, tolerância e liberdade individual é o que define o “eu”.
  • Autoconhecimento é procurar conhecer o “eu” pela observação e pela reflexão sincera sobre as experiências vividas e não através de dogmas.

 

René Descartes (França, 1596-1650) - Matemático, Físico e Filósofo. Obra relacionada: “Meditações”.

  • Cogito, ergo sum./Penso, logo existo.” Mesmo que tudo seja enganoso, o fato de duvidar já seria uma prova de que existe um “eu” que pensa.
  • Conceito de “eu” como substância pensante (res cogitans) separada do corpo (res extensa) e onde a certeza deste “eu” seria a base de todo o conhecimento.
  • A racionalidade é a base do real conhecimento e da filosofia moderna. Portanto, o autoconhecimento acontece através do “eu” que encontra a sua verdade pela razão clara e distinta.

 

John Locke (Inglaterra, 1632-1704) - Filósofo, criador do Liberalismo, um dos pais do empirismo e Teórico do contratualismo (conjunto de teorias que buscam explicar “os porquês” da formação de Estados e o manter da ordem social). Obra relacionada: “Ensaio sobre o Entendimento Humano”.

  • Visão mais psicológica e empírica, longe do misticismo e do racionalismo. O “eu” como consciência contínua e mutável que acompanha os pensamentos ao longo do tempo.
  • O “eu”-identidade como dependente direto da memória. O que quer dizer que: ao lembrarmos de uma ação passada, isso significa que fomos nós quem a fizemos. Se a memória for rompida o mesmo ocorre com a identidade.
  • Ao nascermos somos como um quadro em branco, tudo o que nos compõe vem posteriormente.

 

David Hume (Escócia, 1711-1776) - Historiador, Filósofo, Ensaísta, conhecido por seu ceticismo filosófico e empirismo extremo. Obra relacionada: “Tratado da Natureza Humana”.

  • Não existe “eu” contínuo, substancial ou fixo. Quando em modo introspectivo, tudo o que ele encontrava era apenas percepções, apenas torrentes de experiências.
  • A identidade é uma ficção útil, criada para dar coesão à consciência. O “eu” seria o resultado da memória e da associação de ideias.
  • Metáfora do teatro da mente, onde as percepções entram e saem de cena, mas não há um ator principal.

 

Immanuel Kant (Alemanha, 1724-1804) - Filósofo e um dos principais nomes do iluminismo. Obra relacionada: “Crítica da Razão Pura”.

  • O “eu” transcendental é a condição para o conhecimento, nós não o conhecemos, mas é ele que organiza nossa experiência no mundo. Portanto, o “eu” não é objeto da experiência, mas é o que torna a experiência possível.
  • O “eu” que observamos em nós mesmos (pensamentos, sentimentos, história…) seria o “eu empírico” sujeito ao tempo e as mudanças.
  • O “eu” como sujeito moral autônomo, racional e livre. Age segundo a razão de forma prática e obedece à lei moral interior. Este “eu” é responsável e libertador, independentemente de esta liberdade ser ou não provada empiricamente.

 

Mary Wollstonecraft (Inglaterra, 1759-1797) - Filosofa iluminista, Escritora e defensora dos direitos das mulheres, considerada precursora da filosofia feminista. Obra relacionada: “Reivindicação dos Direitos da Mulher”.

  • O “eu” é racional e digno, moral e capaz de autodeterminação, independente do gênero. Portanto, o autoconhecimento é um direito e um dever de todos os seres racionais (sem exceções).
  • A formação do “eu” é diretamente dependente da educação, pois ele não nasce pronto, mas se constrói através da instrução, reflexão e do exercício da razão.
  • O objetivo da vida humana é a liberdade racional e a virtude, pois é assim que o “eu” se realiza.

 

Século XIX - Romantismo, Niilismo, Psicanálise

 

Friedrich Nietzsche (Alemanha, 1844-1900) - Filósofo, Crítico da moral tradicional, Filólogo, Poeta e Compositor. Obra relacionada: “Assim Falou Zaratustra”.

  • Existem múltiplos “eus”, como uma constelação de impulsos, vontades e forças em conflito. “O eu é uma ficção gramatical.” dizia ele.
  • O “eu” moral é uma construção artificial que reprime a vontade de potência (força criadora, instintiva, individual que seria a essência da vida).
  • O “eu” é algo a ser superado. O ideal seria o além-do-homem (Übermensch), aquela que cria a si mesmo tal qual uma obra de arte.

 

Sigmund Freud (Áustria, 1856-1939) - Neurologista, Psicanalista, reconhecido como fundador da Psicanálise (Psicologia Psicanalítica). Obra relacionada: “O Ego e o Id”.

  • O “eu” (ego) é só uma parte da psique que faz a mediação entre o Id (impulsos, instintos inconscientes) e as exigências do superego (normas morais internalizadas).
  • Uma boa parte do “eu” é inconsciente e o que nós achamos que somos (nossos pensamentos conscientes) seria somente a ponta do iceberg. Esse “eu” é super influenciado pelos desejos inconscientes, os traumas reprimidos e as fantasias infantis - e tudo isso escapa ao controle racional.
  • O desenvolvimento do “eu” se dá através dos conflitos psicossexuais, repressões e mecanismos de defesa. Digamos que é um “eu” ferido, fragmentado e em constante negociação entre prazer, repressão e realidade.

 

Carl Gustav Jung (Suíça, 1875-1961) - Psiquiatra, Psicoterapeuta e fundador da Psicologia Analítica. Obra relacionada: “Tipos Psicológicos”.

  • O “eu” (ego) é a parte consciente da psique e é responsável pela identidade pessoal, as decisões e o senso de “eu sou”. Mas ele é apenas uma parte do Self, que representaria a totalidade da psique, o que inclui o inconsciente.
  • O “eu” real é o Self e este inclui o inconsciente coletivo. O Self seria o centro da totalidade da psique (consciente mais inconsciente) e incluiria os arquétipos universais (a Sombra, o Herói, o Sábio…), que moldam a experiência do indivíduo de forma profunda e simbólica.
  • O “eu” pleno é aquele que passa pelo processo de individuação, ou seja, o “eu” que tornou-se consciente de si em um sua profundidade, que abraçou sua luz e sua sombra.

 

John Broadus Watson (EUA, 1878-1958) - Psicólogo, considerado o fundador do Psicologia Comportamental (o Behaviorismo), que foi ampliada posteriormente por nomes como B.F.Skinner e Ivan Pavlov. Obra relacionada: “O Behaviorismo Clássico”.

  • O “eu” é um conjunto de respostas comportamentais que foram aprendidas ao longo da vida, por isso o foco é diretamente sobre o que pode ser observado e medido, não em estados internos. A introspecção é totalmente rejeitada como método científico, o “eu” não é uma essência mental ou subjetiva.
  • “Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis… e eu as moldarei para se tornarem qualquer tipo de especialista.” - está frase de Watson mostra que em sua visão o “eu” é resultado do ambiente e da aprendizagem, portanto ele é um produto do meio, que pode ser moldado através de estímulo e resposta, sem nenhuma necessidade de recorrer à mente ou à alma.
  • Watson rompe completamente com as tradições filosóficas que buscaram entender o “eu” através da introspecção, da alma ou da consciência. Ele defendeu que tais conceitos são não científicos e inúteis para a psicologia como ciência objetiva.

 

Século XX - Fenomenologia, Existencialismo, Pós-estruturalismo

 

Edmund Gustav Albrecht Husserl (Alemanha, 1859-1938) - Matemático, Filósofo e fundador da Escola de Fenomenologia . Obras relacionadas: “Ideias” e “Investigações Lógicas”.

  • O “eu” (ego transcendental) é consciência pura, é aquela que intenciona, que está sempre voltada para algo. Esse “eu transcendental” seria o sujeito que teria origem em toda a experiência, conhecimento e é base do mundo como fenômeno.
  • “Toda consciência é consciência de algo.” O “eu” não existe isoladamente, a consciência é intencional e o “eu” toma forma por meio das vivências (Erlebnisse).
  • Autoconhecimento exige epoché, ou seja, a suspensão de todas as crenças sobre o mundo externo e o foco na experiência imediata da consciência, o aqui e agora.

 

Martin Heidegger (Alemanha, 1889-1976) - Professor, Filósofo, Escritor e Reitor universitário. Obra relacionada: “Ser e Tempo”.

  • O ser humano é um Dasein - que quer dizer, literalmente, “ser-aí” - o “eu” é um ser que existe no mundo de forma situada, não fixa, que é aberto ao ser e que se compreende por meio da existência.
  • Ao confrontar a finitude e a morte, esse Dasein pode despertar para a sua existência autêntica e reconhecer que deve escolher a si mesmo com liberdade e responsabilidade.
  • O ser humano está sempre em vias de ser, ou seja, o “eu” é um projeto existencial, um eterno vir-a-ser, que constrói-se a partir das possibilidades vividas. Não existe uma essência pronta, apenas um modo de ser que se desdobra no tempo.

 

Vitor Frankl (Áustria, 1905-1997) - Neuropsiquiatra e fundador da Logoterapia e Análise Existencial. Obra relacionada: “Em Busca de Sentido”.

  • O “eu” humano se realiza no momento em que encontra um propósito que o transcenda, mesmo em meio ao sofrimento ou especialmente quando nesta condição. Portanto, o núcleo da existência humana não seria a vontade de prazer (Freud) e nem a vontade de poder (Adler).
  • O centro da dignidade do “eu” é a liberdade interior, ou seja, embora não possamos controlar tudo o que nos acontece, nós sempre teremos liberdade para escolher a nossa atitude.
  • O sentido da vida não nos é dado, mas sim por nós descoberto e quando isso ocorre o “eu” é chamado a responder de forma ética à sua existência.

 

Jean-Paul Sartre (França, 1905-1980) - Escritor, Filósofo e Crítico. Obra relacionada: “O Ser e o Nada”.

  • “A existência precede a essência.” - o “eu” não possui essência prévia, ele a constrói livremente. Isso significa que o ser humano primeiro existe e depois se define. O “eu” não é dado por Deus, natureza ou cultura, ele é algo que cada pessoa cria através das próprias escolhas e ações.
  • “Somos condenados a liberdade.” - o “eu” é 100% liberto e isso também pode ser um fardo, pois não existe o esconderijo do destino externo ou papel fixo. Não existem desculpas metafísicas, o “eu” é totalmente responsável por si mesmo.
  • O “eu” autêntico é aquele que assume sua liberdade, criando assim seu próprio sentido, mesmo em um universo onde não há garantias. O indivíduo até pode fingir não ter escolha, apenas um “papel social”, fugindo da liberdade e isso seria o viver de má-fé (mauvaise foi).

 

Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir (França, 1908-1986) - Intelectual, Escritora, Ativista política, Feminista, Teórica Social e Filosofa existencialista. Obra relacionada: “O Segundo Sexo”.

  • Possuía a mesma visão de Sartre, porém com o adendo de que a liberdade sempre está situada, o que quer dizer que essa liberdade segue um condicionamento de corpo, história, gênero e cultura.
  • A mulher é frequentemente tratada como “o outro” do homem, sendo privada da possibilidade de ser plenamente um sujeito (ou “eu”) autônomo. O “eu” feminino portanto, é socialmente moldado, restringido e alienado, porém pode e deve lutar e conquistar sua liberdade.
  • A construção do “eu” é ligada à ética da liberdade e da solidariedade, pois a autenticidade exige engajamento e responsabilidade. O “eu” verdadeiro se realiza no mundo, quando em relação com os demais. Afirmar a própria liberdade, bem como a dos outros é a forma autêntica de viver.

 

Hannah Arendt (Alemanha, 1906-1975) - Filosofa política. Obra relacionada: “A Condição Humana”.

  • É no encontro com a pluralidade que o “eu” manifesta-se como único e irrepetível. O “eu” não se trata de um essência interior escondida, é algo que se manifesta no mundo e especialmente através da ação e da fala aos outros.
  • Um dos conceitos principais aqui é o da natalidade, ou seja, da capacidade que o ser humano tem de iniciar algo inédito. Quando o “eu” age com liberdade, ele abre novos caminhos no mundo.
  • O “eu” não é só individual, ser verdadeiramente humano é agir, pensar e responder pelo mundo em que se vive. A ausência de pensamento e responsabilidade (como no caso de regimes totalitários e a “banalidade do mal” que ocorre neles) destrói o “eu” e sua dignidade.

 

Paul-Michel Foucault (França, 1926-1984) - Historiador das ideias, Teórico social, Filólogo, Crítico literário, Professor e Filósofo. Suas ideias fazem parte da Psicologia Pós-Moderna. Obra relacionada: “História da Sexualidade” e “Vigiar e Punir”.

  • O “eu” é uma construção histórica e social, onde o sujeito moderno foi “produzido” por saberes como a psicologia, a medicina, a prisão e a pedagogia - ou seja, nós somos formados por forças externas e históricas (narrativas).
  • O “eu” é, em boa parte, um efeito do poder que atua sobre a mente e o corpo, somos sujeitos criados e disciplinados por sistemas de vigilância, categorias e normas, podemos ser rotulados como “loucos”, “criminosos”, “anormais” etc. quando não nos deixamos moldar pelo poder-saber.
  • Inspirado pelos gregos antigos, Foucault sugeria a recriação de nós mesmos conscientemente, tal qual uma obra de arte, desafiando as normas impostas e reinventando nossa subjetividade. Essa reinvenção de si foi chamada de epimeleia heautou.

 

Gilles Deleuze (França, 1925-1995) - Filósofo. Obra relacionada: “Mil Platôs”.

  • “O eu é o que diz ‘eu’, mas não é aquilo que pensa.” Ou seja, o pensamento não parte do “eu”, mas de forças impessoais e pré-individuais. O “eu” não é origem, mas sim efeito, além de uma ficção útil que organiza a multiplicidade da vida psíquica.
  • O sujeito é múltiplo e está em constante transformação, um devir contínuo, não uma identidade.
  • Propôs a “desterritorialização do eu”, que significa romper com as identidades fixas, estruturas e normas opressivas. A liberdade está na criação de si como processo aberto, um auto-esculpir em movimento e sem qualquer modelo prévio.

 

Donna Haraway (EUA, 1944-…) - Zoóloga, Professora e Filosofa. Obra relacionada: “Manifesto Ciborgue” e “Ficar com o Problema”.

  • O “eu” é híbrido, construído nas fronteiras entre o humano, máquina, animal, natureza e cultura. Sendo assim, o “eu” não seria natural nem puro, mas sim uma mistura, uma rede, um fluxo.
  • O “eu” seria uma interface viva, moldada por sistemas técnicos e simbólicos que está inserido em redes de tecnologia, poder e biologia. Ele é formado entre as intersecções de gênero, ciência, raça, tecnologia e bio política.
  • O “eu” não é um sujeito soberano, mas sim como um nó de relações responsivas que precisa agir com cuidado no mundo.

 

Gloria Jean Watkins/bell hooks (EUA, 1952-2021) - Autora, Teórica feminista, Artista, Ativista antirracista e Professora. Obra relacionada: “Eu não sou uma mulher”.

  • O “eu” não pode ser entendido isoladamente ou de forma abstrata, pois a identidade é construída a partir das experiências concretas vividas em contextos de opressão e resistência. Portanto, ele é forjado na interseção de raça, classe, gênero e opressão.
  • O sujeito é capaz de reinventar-se, empoderar-se e posicionar-se criticamente diante do mundo. É um espaço de resistência e transformação, independente de ser marcado por estruturas de dominação.
  • O “eu” se forma e se fortalece por meios dos vínculos afetivos, do cuidado e da solidariedade com o próximo. O amor rompe o ciclo de dominação e permite a construção de um eu inteiro e comunitário.

 

Psicologia Contemporânea (1950-presente)

 

Psicologia Social (década de 1930/1940) - embora suas raízes remetam a um período posterior, este ramo da psicologia se tornou um campo formalmente estabelecido apenas na década 30. Dois dos principais nomes são: Kurt Lewin e Leon Festinger. Eles exploraram o como grupos e sociedade influenciam comportamentos e atitudes individuais. Obras relacionadas: “Princípios da Psicologia Topológica” e “Teoria da Dissonância Cognitiva”.

  • Lewin via o “eu” como algo não isolado, que fazia parte de um “campo psicológico”, que seria um espaço dinâmico onde existe uma constante interação entre o individuo e o ambiente. B=f(P,E) - Comportamento é função da Pessoa e do Ambiente. Dentro desta questão, o “eu” seria o ponto de tensão entre as forças externas e as necessidades internas, onde ele nunca se trata de algo fico ou separado do contexto.
  • Para Festinger, o “eu” era uma estrutura que ficava em torno da busca por consistência interna. Sua teoria da Dissonância Cognitiva ficou famosa por isso. No conflito entre nossas crenças, atitudes e ações, o “eu” fica desconfortável e tende a mudar afim de restaurar a harmonia. Portanto, esse “eu” seria o agente que reorganiza pensamentos e atitudes para manter a narrativa interna coerente.
  • Então, tanto Lewis quanto Festinger tinham a visão de um “eu” dinâmico e em ajuste constante. Não como uma entidade fixa, mas algo que muda conforme os desafios sociais e internos. O sujeito seria ativo, adaptando-se, respondendo e reorganizando seu campo mental com o fim de manter o equilíbrio pessoal e social.

 

Neuropsicologia (década de 1940/1950) - no pós II-Guerra estabeleceu-se como uma área própria, emergindo como campo interdisciplinar que envolvia a psicologia e as neurociências. Com a contribuição de Alexander Luria e outros, ocorreu a exploração das relações entre funções cerebrais e comportamento, especialmente em casos de lesões cerebrais. Obra relacionada: “Fundamentos de Neuropsicologia”.

  •  O “eu” (consciência, identidade pessoal), para Luria, seria um produto de atividades cerebrais complexas e integradas. Ele emergiria da coordenação entre percepção, linguagem, memória, emoção e ação. Ocorreria desta forma pois o nosso cérebro funciona a partir de sistemas funcionais interconectados e não em áreas isoladas. Sendo assim, o “eu” foi considerado por Luria como neuro funcional (a organização ativa das funções cerebrais superiores).
  • Luria via a formação do “eu” de forma indissociável da cultura, da linguagem e das experiências sociais em geral. As funções superiores que estruturariam o “eu” (pensamento abstrato e autoconsciência), seriam construídas socialmente e internalizadas no cérebro em desenvolvimento.
  • Foram apontadas informações de que danos ocorridos em diferentes áreas do cerebrais podiam afetar a percepção do “eu” de modos específicos - perda de memória, de capacidade de planejamento e de linguagem por exemplo. Isso reforçaria a ideia de que o “eu” não seria o centro único, mas sim uma rede funcional complexa, que dependendo da área cerebral afetada pode ser desorganizada de maneira distinta.

 

Psicologia Cognitiva (década de 1950) - pós-II Guerra, com foco no estudo dos processos mentais internos (percepção, memória, raciocínio, linguagem). Jean Piaget e Lev Vygotsky e outros, foram os primeiros a iniciar a transição do behaviorismo - que dominava a cena psicológica da época - para o cognitivismo, assim tornando-o uma das correntes mais influentes da década. Obras relacionadas: “A Psicologia da Criança” e “A Formação Social da Mente”.

  • Piaget via o “eu” como algo a ser construído ao longo do desenvolvimento cognitivo (pelo aprendizado). A criança constrói o “eu” de maneira progressiva e através de estágios em seu desenvolvimento (sensório-motor, pré-operacional etc.). Esse “eu” então surgiria à medida que a criança passa a coordenar suas ações, construindo a noção de identidade, permanência e perspectiva do outro.
  • Para Vygotsky, o “eu” nasce através da mediação cultural e social, especialmente por meio da linguagem. A formação, portanto, se dá por um processo cultural relacional, onde a consciência de si emerge à medida que o indivíduo interioriza as interações sociais. Sendo assim, toda a estrutura de formação do “eu” não depende apenas do biológico ou individual.
  • Piaget via como o “eu” saudável como aquele que alcança autonomia intelectual e moral, passa a superar o egocentrismo infantil por meio da interação com o mundo físico e social. Já Vygotsky dizia que o “eu” se desenvolvia melhor quando era guiado por outro mais experiente em um processo dialógico, portanto o “eu” seria inseparável da “zona de desenvolvimento proximal”.

 

Psicologia Sistêmica (década de 1950) - surgiu a partir do trabalho de Murray Bowen e Salvador Minuchin. Possui partes da teoria e da terapia familiar, foca nos padrões de interação e nas relações dentro dos sistemas familiares ou grupais e no como eles podem afetar o comportamento dos indivíduos. Obras relacionadas: “O Eu na Família” e “A Terapia Familiar”.

  • Bowen via o “eu” (self) não como apenas individual, mas como interdependente - se formaria através de padrões de relacionamento emocional, especialmente no sistema familiar de origem. Um “eu” mais diferenciado seria capaz de pensar e agir livremente, sem ser dominado pelas pressões emocionais do grupo, a essa capacidade de manter a autonomia emocional, Murray deu o nome de “diferenciação do self”.
  • Já para Minuchin, o “eu” é de fato moldado pela estrutura familiar, com suas regras implícitas, fronteiras e subsistemas (pais, filhos, etc.). Os problemas emocionais surgem em decorrência de estruturas rígidas, confusas e/ou desfuncionais, isso impede o desenvolvimento flexível do “eu”. Nossa identidade pessoal é modelada de acordo com a posição que ocupamos dentro do nosso sistema familiar de origem.
  • Tanto Bowen quanto Minuchin enfatizaram que um “eu” saudável é aquele que consegue ser conectado e até íntimo com os demais, mas sem perder sua individualidade. O desenvolvimento do “eu” provém de um equilíbrio dinâmico entre o pertencimento e a autonomia dentro dos sistemas emocionais.

 

Psicologia Humanista (década de 1950/1960) - surgiu como uma espécie de reação contra o behaviorismo e a psicanálise. Passou a focar no potencial, no crescimento e na autorrealização humanas. Suas figuras mais influentes foram: Abraham H. Maslow e Carl R. Rogers. Obras relacionadas: “Motivação e Personalidade” e “Torne-se Pessoa”.

  • Tanto Maslow quanto Rogers afirmam que: O “eu” possui uma tendência inata à autorrealização, o que neste caso significa à plena expressão de seu potencial. Portanto, o “eu” não se trata de apenas um dado biológico ou de um reflexo social, ele é uma estrutura viva e em movimento, que busca coerência, crescimento e autenticidade (mesmo que ilusória).
  • Maslow dizia que o “eu” busca crescimento, criatividade, autonomia e transcendência - questões que estariam no topo da sua pirâmide, logo após a satisfação das necessidades básicas. Para Rogers o “eu” só se desenvolve quando recebe uma aceitação incondicional positiva e isso permite que o sujeito integre seu “self real” (quem realmente é) com seu “self ideal” (quem gostaria de ser).
  • Maslow e Rogers valorizam as relações genuínas, o viver em plenitude no presente, a autenticidade e o compromisso com os valores humanos. O ser humano se encontra em um processo contínuo de auto-exploração, abertura e responsabilidade existencial. Tudo isso para tornar-se verdadeiramente quem é.

 

Psicologia Cognitivo-Comportamental, ou TCC (década 1960/1970) - consolidou-se neste período como uma vertente integrada, sendo fundada e desenvolvida por Albert Ellis e Aaron Beck. Eles combinaram as abordagens do cognitivismo (percepção e pensamento) com as técnicas comportamentais e assim ajudaram a tratar distúrbios psicológicos, com alterações dos padrões de comportamento e de pensamento. Obras relacionadas: “Sentir-se Bem: A Terapia Racional-Emotiva Comportamental” e “Terapia Cognitiva: A Teoria e a Prática”.

  • Para Ellis e Beck o “eu” não é definido por acontecimentos externos e sim através da interpretação que fazemos deles. Pensamentos e crenças moldam como as pessoas se vêem e como experimentam o mundo.
  • Ellis diz que muitos dos sofrimentos psicológicos provém de crenças irracionais como: “Eu devo agradar a todos.” ou “Tudo precisa estar perfeito.” Já Beck mostrou que a depressão, a ansiedade entre outros transtornos se originam em esquemas cognitivos negativos - padrões de pensamento distorcidos sobre o “eu”, os outros, o mundo, o futuro…
  • Para ambos, o objetivo da terapia seria auxiliar o indivíduo a identificar, desafiar e a mudar essas crenças disfuncionais. Um “eu” mais saudável é aquele que pensa de uma forma mais realista, flexível e construtiva, o que consequentemente regularia melhor suas emoções e ações.

 

Psicologia da Saúde (década de 1970/1980) - surgiu com foco no impacto que os fatores psicológicos possuem sobre a saúde física. Esta vertente aborda e explora questões como o estresse, a saúde mental e as doenças físicas. Figuras importantes deste ramo são Susan Folkman e Richard Lazarus. Obra relacionada: “Estratégias de Coping e Psicopatologia”.

  • Para ambos o “eu” é diretamente afetado pela maneira como o indivíduo percebe e lida com o estresse. Eles propões que o estresse resulta em uma discrepância entre as demandas do ambiente e os recursos do indivíduo.
  • A teoria do coping sugere que o “eu” não é passivo diante do estresse, que ele pode usar estratégias de enfrentamento (o coping) para lidar com as situações desafiadoras. De acordo com essa teoria existem dois tipos de coping: um é focado no problema (procurar resolver a causa do estresse) e o outro é focado na emoção (procurar lidar com as emoções causadas pelo estresse), o uso adaptativo destas estratégias fortaleceria o “eu”.
  • O estresse constante e mal gerido pode enfraquecer o “eu”, pois este se desenvolve através da capacidade de adaptação e no encontro do equilíbrio entre desafios e recursos. A saúde mental e emocional está intimamente ligada à capacidade do “eu” de perceber e a reagir aos agentes do estresse de forma eficaz.

 

Psicologia Evolucionista (década de 1980) - foi diretamente influenciada por Charles Darwin e começou sua consolidação a partir das ideias de figuras como Leda Cosmides e John Tooby. Ambos propuseram que os comportamentos humanos poderiam ser melhor entendidos como adaptações evolutivas, onde as mesmas seriam influenciadas pela seleção natural ao longo da evolução. Obra relacionada: “A Mente Adaptada à Evolução”.

  • O “eu” não é apenas um produto da cultura ou das experiências individuais, ele é o resultado das adaptações evolutivas que permitiram aos seres humanos sobreviver e se reproduzir. Esse “eu” é moldado por uma mente adaptada a lidar com os desafios que nossos ancestrais enfrentaram.
  • Cosmides e Tooby propõe a ideia de uma mente humana que não se trata de uma tábula rasa, mas uma mente que é composta por módulos cognitivos especializados (mecanismos mentais que teriam evoluído para resolver problemas específicos relacionados à sobrevivência. Portanto, o “eu” seria moldado por esses módulos, que seriam ativados em contextos específicos como: interações sociais, escolha de parceiros e/ou avaliações de riscos.
  • O “eu” é altamente adaptável ao contexto social cooperativo, sendo influenciado pelas normas, pela confiança e pela necessidade de reciprocidade para maximizar a sua sobrevivência e o seu sucesso reprodutivo. Em função disso, essas habilidades e formar grupos complexos e a necessidade de confiança são aspectos tão fundamentais na psicologia e destacam-se no desenvolvimento do “eu”.

 

Psicologia Pós-Moderna (década de 1970/1980-...) - este ramo foi diretamente influenciado pelos filosófos Kenneth Gergen e Michel Foucault (já citado anteriormente). A psicologia pós-moderna veio para questionar as verdades universais e o papel da cultura, da linguagem e da subjetividade na formação da identidade e no comportamento. Obras relacionadas: “O Eu Saturado: Dilemas da Identidade na Vida Contemporânea” e “A Hermenêutica do Sujeito”.

  • “Não sou, eu me torno - na relação com o outro.” Gergen sugere que o “eu” não se trata de uma essência interior ou identidade fixa, mas sim de um resultado das interações sociais e da linguagem. Ele propõe que a linguagem cria a realidade, assim o “eu” seria múltiplo, relacional e formado através dos contextos culturais e históricos em que vivemos.
  • Foucault desconstrói a ideia de um “eu autônomo”, ele diz que o “eu” moderno foi produzido através dos discursos institucionais que normatizaram os comportamentos e as subjetividades. Portanto, o “eu” seria um efeito do poder, que age sobre os nossos corpos e mentes nos transformando em sujeitos obedientes, úteis e “normais”.
  • Para ambos o “eu” não se é algo estático e nem universal, seria algo que pode e deve ser repensando.

 

Muito bem! Agora que temos um contexto estamos prontos para o que interessa!

 

A Plasticidade Cerebral

 

Historicamente, acreditava-se que o nosso cérebro “engessava-se” depois da infância. No entanto, estudos mostraram que o cérebro de um adulto também possuí capacidade adaptativa, assim como o das crianças. Pesquisas com macacos demonstraram que, após a amputação de um dedo, a área cerebral correspondente era ocupada por neurônios responsáveis por outros dedos, assim evidenciando uma reorganização neural.

Essa reorganização chama-se plasticidade cerebral, ou neuro plasticidade, que nada mais é do que a capacidade que o nosso cérebro possui em se reorganizar como resposta a experiências. A nossa massa cinzenta passa a formar novas conexões neurais da mesmo forma que trocamos de playlists no Spotify, e além disso, está sempre aprendendo novas habilidades, nos recuperando de lesões, se adaptando a comportamentos e esquecendo coisas. O neurocientista David Eagleman diz que “A plasticidade do cérebro é provavelmente o mais belo fenômeno da biologia.”

Pesquisas como as de Michael Merzenich, Eleanor Maguire (sim, aquela dos taxistas e seus hipocampos gigantes - se não sabe o que é isso, faça-se um favor e leia sobre) e Norman Doidge (“O Cérebro que se Transforma”), mostram que o cérebro se adapta fisicamente a funções, demandas e até traumas. Se você entendeu o que isso quer dizer, então já deve ter percebido o quão foda isso é. A mesma plasticidade que permite superar um AVC (Acidente Vascular Cerebral) também permite internalizar fake news como se fosse uma verdade absoluta.

A plasticidade também funciona de maneira dual (que novidade!): ela pode curar ou destruir, iluminar ou emburrecer. Tudo depende do tipo de experiência a que nos expomos. E mais: depende do tipo de “eu” que desejamos sustentar, acreditar…

E é aqui que temos o efeito Eureca! As tantas linhas/formas/ideias que você leu mais acima… sacou né?! Se não, leia de novo com mais atenção.

uma mulher careca, tatuada e vestido de negro olha-se em um grande espelho com moldura dourada e antiga em estilo barroco, a mulher e o espelho estão em uma floresta escura

“Eu” - Uma Construção da Mente

 

Conforme vimos no inicio desse ensaio, a ideia de um “eu” fixo e imutável tem sido exaustivamente questionada por diversas linhas de pensamento. No livro “A Ilusão do Eu”, o neuropsicólogo Chris Niebauer argumenta que o hemisfério esquerdo do cérebro atua como uma espécie de “intérprete”, criando narrativas para dar sentido à realidade, o que inclui a construção de uma identidade pessoal.

Essa perspectiva encontra eco nas tradições filosóficas orientais, como o budismo, que há milênios ensina que o “eu” é uma ilusão. A neurociência moderna começa a corroborar essas ideias, mostrando que nossa percepção de identidade é maleável e influenciada por diversos fatores internos e externos.

Essa convergência entre a filosofia oriental e a neurociência nos oferece insights profundos. Práticas como a meditação e mindfulness, que são extremamente comuns nas tradições orientais, têm demonstrado efeitos significativos na estrutura e nas funções cerebrais, promovendo maior autoconsciência e redução do stress e da ansiedade (Recomendo a leitura de qualquer obra do Dr. Joe Dispensa).

Essas práticas ajudam a nos desidentificarmos de pensamentos e emoções, permitindo-nos uma maior compreensão da impermanência do “eu”. Ao reconhecermos a natureza transitória da nossa identidade, podemos cultivar uma mente mais aberta e resiliente.

 

O Culto a Autenticidade e a Plasticidade como Forma de Resistência

 

O fato de o “eu” ter virado uma marca, não é novidade para ninguém. Hoje a nossa identidade digital é cuidadosamente filtrada, quase um Frankenstein emocional feito para um único fim, vender - seja produto, estilo de vida ou validação.

A ironia é que nunca se falou tanto em “ser autêntico”, mas nunca se performou tanto para parecer algo. A autenticidade virou um figurino nós estamos “presos” em um palco onde o público somos nós mesmos, assistindo a um espetáculo que - na maioria dos casos - não pedimos.

E em meio a tudo isso, eis que ainda pensamos decidir alguma coisa. Pensamos que escutamos a música que gostamos por que temos “bom gosto”… Deixa eu te contar uma coisa, a maior parte dos nossos gostos, crenças e ideias são herdados de outros e além disso os algoritmos fazem o restante do trabalho. 

Nos dias de hoje as inteligências artificiais conhecem nossos desejos melhor do que nós mesmos. Nossas playlists sabem que nós somos antes antes mesmos de sabermos quem queremos ser. Isso tudo é chamado de “experiência personalizada”, mas o que estamos experienciando, na verdade, é uma forma de condicionamento comportamental nível premium. Nós não somos clientes, nós somos o produto sendo refinado.

 “Onde existe vontade, existe um caminho.” - Provérbio anglo-saxão.

O provérbio acima exprime muito bem a forma como os seres humanos - pelo menos alguns - agem em seu meio. Portanto, antes que comecemos a ver o mundo apenas através da lente da crítica, é bom falarmos um pouco sobre a capacidade de reinvenção como ato revolucionário. Podemos dizer que reinventar-se pode ser o maior ato de liberdade em uma era de rótulos e nichos.

Se ao invés de buscarmos um “eu fixo”, aceitássemos nossa metamorfose constante?

uma mulher careca, tatuada e vestido de negro olha-se em um grande espelho com moldura dourada e antiga em estilo barroco, a mulher e o espelho estão em uma floresta escura

Rituais & Psicodélicos

 

Vou falar um pouco sobre as minhas duas experiências com a Ayahuasca. Participei destes rituais nos anos de 2023 e 2024 em um curto intervalo de tempo. Ambos foram enriquecedores, de formas completamente distintas e me auxiliaram a melhor compreender a minha própria Gênese do “Eu”.

IMPORTANTE: Caso você tenha a ideia de participar de algum ritual, eu recomendo que: FAÇA SUA PRÓPRIA PESQUISA. Não participe destes rituais de forma leviana. Tenha cuidado na escolha do local e das pessoas que ministram essas cerimônias, isso é de extrema importância. Não se jogue em qualquer canto que ofereça Ayahuasca. Tenha bom senso e não use a cabeça como enfeite! Que fique muito claro que eu não sou nenhuma profissional da área, minhas pesquisas e saberes sobre o assunto são limitados aos meus próprios interesses. Por isso não utilize as informações a seguir como guia e sim como leitura.

Para aqueles que não sabem a Ayahuasca é uma bebida feita a partir da combinação de duas plantas amazônicas: o cipó Banisteriopsis caapi (Jagube) e as folhas do arbusto Psychotria viridis (Chacrona). As folhas da Chacrona possuem uma alta concentração de DMT, um potente composto psicodélico (vide pesquisas do psiquiatra Rick Strassman sobre a produção e sintetitazação desta substância pelo corpo humano), já o cipó Jagube possui alta concentração de inibidores da MAOs (substância reguladora do DMT no corpo humano), que permitem que o DMT atue no sistema nervoso central, pois sem o cipó o DMT seria rapidamente degradado pelo nosso organismo.

A atuação da medicina em nosso corpo, se dá especialmente em áreas como córtex pré-frontal, amígdala (não é a da garganta!) e o hipocampo, afetando assim as funções de percepção, memória, emoções e sensação de identidade.

Os efeitos da Ayahuasca duram em média 4 a 6 horas e incluem visões, introspecção profunda, liberação emocional, sensação de transcendências e as chamadas “limpezas” que nada mais são do que: choro, suor em excesso, vômitos e em alguns casos a pessoa pode até se cagar (literalmente).

Dentro do ponto de vista fisiológico, a Ayahuasca ativa os receptores de serotonina (neurotransmissor que é liberado no corpo após atividades que geram prazer - como o sexo, por exemplo), promovendo assim estados alterados de consciência - as chamadas vivências e mirações - que se ‘assemelham’ a sonhos muito vívidos e/ou experiências místicas.

Nos rituais tradicionais e nas terapias modernas, a Ayahuasca tem sido usada no tratamento de traumas, depressão, ansiedade e também para catalisar experiências de expansão do “eu”, de dissolução do ego e de reconexão espiritual.

É importante citar que essas práticas ancestrais já são utilizadas a séculos pelos povos indígenas em rituais espirituais e de cura. Mas, como bons metidos, os “caras pálidas” (nós e o mainstream) resolveram trazer isso para cultura pop da espiritualidade fast-food, o que quer dizer que os rituais com Ayahuasca tem ganhado cada vez mais fama e adeptos. E além disso, eles viraram portais para o autoconhecimento, cura emocional e experiências transcendentes.

Mas aqui vai um alerta - com todo o carinho e lucidez possíveis: a Ayhuasca não é o perigo em si, mas sim a nossa obsessão contemporânea por “encontrar a si mesmo” como se o “eu” fosse uma pedra sagrada perdida em alguma caverna interior. A busca ansiosa por autenticidade pode virar uma corrida sem fim - onde pula-se de retiro em retiro, de ritual em ritual, tentativa atrás de tentativa de decifrar quem “realmente se é” enquanto ignora-se, por exemplo, as relações mal resolvidas com a família.

A ressignificação identitária sempre é válida - necessária, eu diria. Mas quando vira performance espiritual ou fuga elegante da realidade, o risco é trocar um ego inflado por um ego “iluminado”, ainda mais cheio de si.

Sim, a Ayahuasca pode oferecer visões, confrontos com traumas esquecidos e a tal “dissolução do ego”, onde o sujeito se sente parte do todo, do cosmo, da floresta, do som da música ensurdecedora, do tambor… enfim, de tudo, menos de “si”.

Mas, vamos lá…

Devemos levar em conta que eu possuía uma pergunta em minha mente e essa me levou a participar dos rituais. Eu queria saber quem eu era (hahaha, sim…). Assim, eu decidi participar dos rituais como uma forma de obter respostas (que novidade).

A partir destas experiências eu desenvolvi minhas interpretações sobre a Gênese dos meus “eus”. Claro, que seria idiotice minha dizer que cheguei a uma única resposta. Essas experiências serviram de base para o que “eu” me tornei e também para o que ainda irei me tornar.

Abaixo deixo um breve relato poético - e levemente meloso - sobre elas, de maneira que possa servir como ilustração do como nós moldamos a nossa vida a partir de nossas percepções, interpretações, crenças, pensamentos… Que isso possa servir de exemplo para você analisar os seus “eus” de uma maneira mais profunda, compreensiva e sem querer colocar pontos finais onde só existem reticências.

 

Experiência n° 1 - “O Fractal que Me Desfez”

No meu primeiro ritual, eu não tive uma visão bonita. O negócio foi mais como uma implosão estética da mente.

Não vi anjos com harpas e auréolas, nem guias com roupas brancas e penas.

Vi fractais. Milhões deles.

Tanto de olhos fechados quando abertos, não fazia diferença - eu era um pedaço daquelas estruturas infinitas.

Sem começo. Sem fim. Sem manual.

Esses fractais se organizavam em padrões muito maiores, e esses padrões se tornavam olhos escuros com múltiplas pupilas. Como se o próprio Universo estivesse me encarando em silêncio.

Cada vez que eu tentava entender, focar no que eu via, vinha uma ânsia de vômito horrível, literalmente.

Era como se o corpo já soubesse o que a mente se recusava:

“Tentar entender o Real com as lentes do ego é o mesmo que querer vomitar o Infinito em pequenas e digeríveis porções.”

Parei de tentar identificar. Parei de tentar saber.

Deixei que as imagens fluíssem como um rio. Como se não me pertencessem.

E foi aí que o ritual começou de verdade.

Quando passou, eu chorei.

Chorei como quem perde uma casa a qual nunca existiu.

Chorei uma semana inteira por algo que, até hoje, eu nem ao menos sei nomear.

Eu só sei o que aconteceu.

Eu fui desmontada. Fragmentada. Dilacerada.

Não por acidente, mas por excesso de realidade.

O que ficou, foi:

“A clara noção de que a vida que vivemos, só se trata de um dos muitos reflexos de um mesmo padrão que se repete. Tentar reduzir isso a lógica é o mesmo que tentar engarrafar o mar em uma garrafa de 2 litros.”

 

Experiência n° 2- “O Túnel dos Eus”

No meu segundo ritual, não foi a continuação do desmonte.

Eu fui conduzida.

Caminhei por um túnel o qual não possuía entrada ou saída.

Suas paredes eram telas. Nessas telas, as mais variadas cenas se desenrolavam.

Pessoas em diferentes mundos, épocas, corpos…

A certeza que não vem do cérebro me disse o que eu já sabia, todas essas pessoas eram eus.

Eu, era alguém em outro tempo.

Eu, era alguém em outro lugar.

Eu, era alguém sem saber que era eu - mas eu era, estava apenas sendo.

O mais estranho foi que eu não me apegava a esses eus.

Eu os via. Sentia. Sabia. E simplesmente seguia caminhando.

A lição não-verbal foi:

“Tu não é a tua história. Tu é o que observa enquanto ela acontece.”

Quando passou, eu estava faminta. Mas não de comida e sim de Vida.

A energia borbulhava em mim como se eu tivesse nascido novamente naquele segundo, mas com um corpo de 12 dimensões.

Nos dias que se seguiram, os flashs voltavam. Rostos desconhecidos, mas familiares.

Pouco a pouco tudo foi se tornando… normal demais.

Era como se o véu estivesse se acostumando comigo enquanto eu olhava o outro lado.

 

E você… o que isso pode dizer a seu respeito…

Esses relatos podem não ser somente sobre mim.

Também podem ser sobre você, sobre o que você sente, mas ainda não conseguiu colocar em palavras.

Nós vivemos como se fossemos um “eu fixo” em um corpo com RG e CPF.

Mas, bem lá no fundo, nós somos um compilado de eus.

E o que nos impede de reconhecer isso não é a falta de acesso espiritual.

É o medo. Medo do colapso.

Medo de nos encaramos e vermos que tudo que somos é uma interpretação em fluxo, uma realidade inteira escorrendo entre os dedos.

Mas aqui vai uma informação:

A realidade já escorre. Sempre escorreu.

O que muda é apenas a nossa disposição em continuar caminhando - sem necessidade de um ponto final, apenas aceitando as reticências como parte da nossa assinatura.

Essas experiências me ensinaram muito mais do que eu consigo colocar em palavras, mas o que eu consigo verbalizar é:

  • Nós somos formas que se desdobram e não verdades esculpidas em mármore.
  • O nosso “eu” é apenas uma lente provisória que muda conforme o trauma, o afeto, a memória, a experiência ou o silêncio.
  • Quando deixamos de tentar prender o Real é que ele nos concede uma dança.

 

uma mulher careca, tatuada e vestido de negro olha-se em um grande espelho com moldura dourada e antiga em estilo barroco, a mulher e o espelho estão em uma floresta escura

A Leveza de Ser Todos e Ninguém

 

Já dizia Fernando Pessoa: “Ser ninguém é um luxo que poucos podem pagar.” E talvez isso seja algo que pode nos salvar: a leveza de se desfazer e se permitir deixar de ser um rótulo ambulante.

Ficar de boas com a impermanência da nossa identidade é abrir espaço para a transformação e o crescimento. Ignorar isso é permanecer preso aos padrões limitantes e sofrer sem necessidade.

Autoconhecimento é uma questão de sobrevivência e não de opção. Mas isso já é papo para outro artigo.

Se você chegou até aqui parabéns, talvez haja esperança para você! Portanto, continue explorando os demais artigos da UN4RT e não deixe de dar uma olhada no nosso UN4RTificial o Blog. Comente, critique, sugira temas e mande aquele feedback agressivo. Ah e compartilhe com a galera que acha que se conhece só porque fez um mapa astral gratuito com IA.

Lembre-se: Em um mundo onde os comportamentos automatizados são explorados e cultivados por marcas, religiões e governos, o auto-questionamento tonou-se algo essencial. Embora desconfortável é só através disso que podemos conquistar a liberdade. Resista. Pergunte. Duvide. E, acima de tudo, não acredite em tudo o que você pensa.


“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT

 

Pega as fontes, referências e inspirações aí. Os links direcionam para UN4RTificial o Blog, lá você encontra uma mini-biografia do autor e algumas de suas obras.

  • Upanishads / Vedānta, Brihadaranyaka e Chandogya. 
  • Lao-Tze, Tao Te Ching. 
  • Confúcio, Analectos.
  • Siddharta Gautama (Buddha), Dhammapada e Sutras.
  • Platão, Fédon, A República e O Banquete. 
  • Zhuangzi, Zhuangzi. 
  • Aristóteles, Ética a Nicômaco e Metafísica. 
  • Vyasa, Bhagavad Gita. 
  • Steve Pressfield, autor aclamado por seus romances históricos, o qual escreveu o roteiro do filme Lendas da Vida citado neste ensaio. Indico a obra “Portões de Fogo” que fala sobre a Batalha de Termópilas do ponto de vista de um soldado espartano e para aqueles que, assim como eu, trabalham com à criatividade e/ou querem desenvolver sua disciplina eu recomendo “A Guerra da Arte”. 
  • Agostinho de Hipona, Confissões.
  • Adi Shankara, Brahma Sutra Bhashya.
  • Padmasambhava, Bardo Thödol.
  • Hildegarda von Bingen, Scivias.
  • Tomás de Aquino, Suma Teológica.
  • Dōgen Zenji, Shōbōgenzō.
  • Teresa d'Ávila, Castelo Interior. 
  • Michel de Montaigne, Ensaios.
  • René Descartes, Meditações. 
  • John Locke, Ensaio sobre o Entendimento Humano.
  • David Hume, Tratado da Natureza Humana. 
  • Immanuel Kant, Crítica da Razão Pura. 
  • Mary Wollstonecraft, Reivindicação dos Direitos da Mulher. 
  • Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra. 
  • Sigmund Freud, O Ego e o Id. 
  • Carl Gustav Jung, Tipos Psicológicos. 
  • John B. Watson, O Behaviorismo Clássico. 
  • Edmund Husserl, Ideias e Investigações Lógicas.
  • Martin Heidegger, Ser e Tempo. 
  • Viktor Frankl, Em Busca de Sentido. 
  • Jean-Paul Sartre, O Ser e o Nada. 
  • Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.
  • Hannah Arendt, A Condição Humana. 
  • Michel Foucault, História da Sexualidade,Vigiar e Punir e A Hermenêutica do Sujeito.
  • Gilles Deleuze, Mil Platôs. 
  • Donna Haraway, Manifesto Ciborgue.
  • bell hooks (Gloria Watkins), Eu não sou uma mulher. 
  • Kurt Lewin, Teoria do Campo. 
  • Leon Festinger, Dissonância Cognitiva. 
  • Alexander Luria, Fundamentos de Neuropsicologia.
  • Jean Piaget, Psicologia da Criança. 
  • Lev Vygotsky, A Formação Social da Mente.
  • Murray Bowen, O Eu na Família. 
  • Salvador Minuchin, A Terapia Familiar.
  • Abraham Maslow, Motivação e Personalidade. 
  • Carl Rogers, Torne-se Pessoa. 
  • Albert Ellis, Sentir-se Bem. 
  • Aaron Beck, Terapia Cognitiva. 
  • Susan Folkman / Richard Lazarus, Estratégias de Coping. 
  • Leda Cosmides / John Tooby, A Mente Adaptada à Evolução. 
  • Kenneth Gergen, O Eu Saturado. 
  • Chris Niebauer, A Ilusão do Eu. 
  • David Eagleman, Artigos sobre neuroplasticidade. 
  • Michael Merzenich, Pesquisas sobre plasticidade cerebral. 
  • Eleanor Maguire, Estudo sobre hipocampo de taxistas. 
  • Norman Doidge, O Cérebro que se Transforma.
  • Joe Dispenza, Obras sobre neurociência e meditação.
  • Rick Strassman, DMT: A Molécula do Espírito.